sábado, 31 de janeiro de 2004

'Tá tudo doido

O facto político do dia vem no Expresso. E não é na manchete, embora hesite quanto ao que seria mais hilariante - se o Marcelo em Bruxelas, se o Jardim em São Bento.
Não, a verdadeira história é que o Pedro Namora quer tirar o Carvalhas da liderança dos comunistas e que o Adelino Granja saiu do PCP.
O Namora? O Granja? Está tudo doido, tudo doido mesmo...
Ah, já me esquecia, a filha do Xanana Gusmão filiou-se no PSD!
Internem-me, depressa, internem-me...

Rectificação

Oh Filipe (Mar Salgado, desta vez faço link...), veja lá se atina: o tipo que é comentador da SIC (estou impedido de o elogiar, como Adufe, pelo simples facto de ser meu amigo) não se chama nem José António Teixeira, nem António José Saraiva, nem... mas sim António José Teixeira.

Não há cura

Escreve um tonto hoje no Expresso: «Trinta anos depois, temos saudades de Salazar.»
Esta gente nem a língua portuguesa conhece - a primeira pessoa do singular do verbo ter é «tenho» e não «temos».

Declaração II

No mesmo dia em que o CDS anuncia que vai processar Francisco Louçã, por este ter chamado «inimputável» à ministra da Justiça, António Pires de Lima, porta-voz do CDS, chamou «criminoso» a Mário Soares por causa da descolonização.
Declaro, para os efeitos considerados irrelevantes, que me considero completamente criminoso.

Interlúdio em forma de assim

MacGuffin, MacGuffin... não me leve mais a sério que eu próprio.
Tendo em conta o que tem publicado nos últimos dias, o meu amigo merece mesmo é um belo e dourado escocês (pronto, como é para si, pode ser americano...) com ou sem rocks (esta é só para irritar o Cláudio... mas, afinal, quem é o Cláudio?). Tudo a seu gosto. E sempre encararia o sábado com outra disposição para... bem... enfim, a manchete hoje é Marcelo no lugar de Vitorino... Deve ser para rivalizar com a manchete do Independente de ontem! Acho graça é que o Cidadão Livre já está a ver o Inimigo Público fundido com o Independente. Só não sei é se ele já acha que o Expresso é um suplemento anafado do Inimigo Público.
Apesar de também se vender num saco de plástico, é pouco provável que o Expresso possa estar na mala de Natália Berber? A propósito, algum dos senhores sabe o que está na mala de Natália Verbeka? E porque é que ninguém linka ao Abrupto?
Já agora, se o MacGuffin não se importar, dividimos a garrafa com o nosso FNV (Mar Salgado, link ao lado - oh homem, eu acredito nessa coisa do Mac, só que acho graça a esse seu tique involuntário...) , que hoje teve um dia complicado. E a ondulação que por lá anda (link ao lado...) está a causar-lhe graves problemas de enjôo, já delira - os jornalistas são atraídos pela excentricidade. Era por isso que andavam atrás do Fidel. O FNV sabe lá os que os jornalistas têm de aturar devido ao gosto do público pelas excentricidades...

sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

Declaração

Declaro, para os efeitos considerados relevantes, que me considero completamente inimputável.

Filipe de memória pouco Fidel

Eventualmente afectado pelo escorbuto ideológico, estirpe VLX, que grassa pela nau do Mar Salgado (link na coluna da direita...), FNV teve um valente lapso de memória.
Esqueceu-se que as relações mais estreitas que o poder político português teve, na última década, com Fidel Castro tiveram como protagonistas Mário Soares, Jorge Sampaio e António Guterres. Três socialistas, vejam lá!, que em sucessivas cimeiras ibero-americanas se entretiveram a explicar ao velhote os malefícios do comunismo. Se a memória não alcança, há por aí muitos arquivos de jornais.
Quanto àquela célebre noitada de 1998, em Matosinhos, convém não sobrevalorzar - tratou-se apenas de uma stand-up comedy antes do tempo.

Nazis

Na página 37 do Independente de hoje, há uma foto de Tony Blair com o braço estendido, em pose similar à saudação nazi.
E isto lembrou-me uma polémica completamente idiota que há tempos passou pela blogosfera em que alguns se indignaram com a publicação de uma foto semelhante de Paulo Portas (no Público, salvo erro).
A ideia era, como de costume, meter a jornalistada toda no saco da esquerda. Com o Independente à cabeça, presume-se agora.

A doutrina Hutton

Durão Barroso manifestou-se «muito impressionado» com o relatório Hutton e vaticinou que o documento «vai fazer doutrina».
Antes que a ideia da doutrina se esfumasse, logo ali exemplificou com o modo como a oposição, os especialistas e os media se referiram ao caso da ministra que se esqueceu de entregar à Segurança Social os descontos feitos pelos trabalhadores.
Tudo isto é muito lógico. O nosso Zé Manel está a revelar-se um adepto ferrenho das doutrinas Blair.
[Actualização: são dez e tal da noite e só agora reparo que plagiei involuntariamente o Barnabé. Mas, também, os gajos estão sempre em vantagem - têm um enviado especial no Parlamento que, ainda por cima, acumula com a actividade de spin doctor.]

Hutton e os abutres

O relatório Hutton é um assunto sério. Muito sério. Seria bom que os media lhe dedicassem mais atenção.
Noto, por exemplo, que o juiz Hutton iliba toda a gente e todos os procedimentos, de forma cabal, do lado do Governo e arrasa toda a gente e todos os procedimentos, igualmente de forma cabal, do lado da BBC.
É um sinal dos tempos que vivemos. Em que o hiper-criticismo desviou o seu centro de atenção do poder político para o poder mediático.

A mentira do poder

Depois de o relatório Hutton ter concluído que Blair não mentiu aos ingleses (e a Durão Barroso), simplesmente foi enganado pelos serviços secretos, chegou a hora de Washington reconhecer o mesmo. E se é a Condoleezza Rice que o diz...
Espantoso: somos governados por gente que decide guerras com base em palpites e dicas sem fundamento. Isto num tempo que dizem ser o da informação.

Fehér (ainda?)

Isto hoje está assim...
O Janela para o Rio volta ao tema da cobertura mediática da morte do Fehér e eu não resisto a mais uma dose de esclarecimentos sobre o que escrevi:
1. Fotografias de jogadores à volta da urna? Não sejamos ingénuos, o NunoP acha que 90 por cento daquela gente teria ido lá prestar homenagem se não houvesse uma câmara por perto?
2. Questionando a possibilidade de doping? Mas porque não? E porque não questionar todas as hipóteses? Não há cidadãos exemplares, como o caso da pedofilia mostrou. Além do mais, um cidadão exemplar pode ser dopado por outrém. Aos jornalistas cabe o dever, repito, o dever, de fazer todas as perguntas, repito, todas.
3. A Sport TV recusou vender imagens? Quando o futebolista estava a entrar na ambulância, vimos vários fotógrafos de volta da maca, mas não vimos uma única dessas fotos. Se calhar, as excepções são mais do que se pensa.
4. Os blogues prestaram homenagem sentida e digna, as televisões foram medíocres. Mas quem somos nós para julgarmos os sentimentos dos outros? Porque é que a nossa dor há-de ser genuína e a dos outros destinada apenas às audiências?
5. A mim indigna-me mais a indignação palavrosa, ôca e por vezes hipócrita que se levanta sempre à volta do comportamento dos media.

Dá-me música...

Dúvida: como é que um fulano destes tem tão bom gosto musical?
(É claro, peço desde já desculpa a toda a blogosfera que se possa sentir ofendida por este gesto de xenofobia musical, que desde já assumo...)
Quanto aos problemas de (des)entendimentos linguísticos, recomendaria Ferdinand de Saussure, apesar de o Stephin Merritt ter já cantado a sua morte... Ah, é claro, tudo acompanhadinho de doses industriais de chá. Tília, de preferência!

quinta-feira, 29 de janeiro de 2004

Outro?

Eu não dizia? Anda tudo mesmo ultra-susceptível. Deve ser da depressão que atravessou o país esta semana...
Agora foi o Contra-a-corrente.
O Vasco Pulido Valente deu uma entrevista na qual disse que «as pessoas que escrevem nos blogues» são «políticos falhados, jornalistas frustrados e tanta outra gente completamente iletrada, que não conhece os assuntos, e podiam dizer aquilo, ou o contrário, que era igual ao litro».
O Contra-a-corrente (e depois o Liberdade de Expressão) publicou aquele excerto e eu interroguei-me porque andariam eles a publicar auto-retratos.
Isso foi suficiente para que o MacGuffin tenha escrito um texto completamente fora de órbita.
Começo a ficar preocupado...

Porrada neles

Isto hoje anda tudo muito susceptível.
Meu caro FNV (link igualmente na coluna da direita - desculpe lá Filipe, mas não resisto à piadola fácil...), «dar porrada» pode ser uma forma bem salutar de discutir. Não é preciso levar tudo à letra.

A glória fácil (II)

Cara Maria José,
passo ao lado do duelo simbólico. Insinuações? Acusações implícitas?
Nada disso.
Apenas a minha perplexidade perante as novas formas de diálogo que os blogues vieram introduzir no espaço mediático.

A glória fácil de JPP

Há uns dias, a jornalista São José Almeida escreveu no Público um dossier sobre o Tarrafal, em que falava das torturas praticadas pela Pide.
José Pacheco Pereira, colaborador habitual do Público, decidiu desmentir, em termos peremptórios, a jornalista no seu blogue Abrupto.
A jornalista do Público Maria José Oliveira, que nada teve a ver com a peça do Tarrafal, publicou no blogue Glória Fácil uma crítica violenta a José Pacheco Pereira.
José Pacheco Pereira não utilizou o seu espaço habitual no Público para desmentir o artigo de São José Almeida.
O Público, que já citou bastas vezes o blogue do seu colaborador José Pacheco Pereira, ignorou o desmentido por este publicado no Abrupto.
Resisto a teorizar, ou sequer a fazer juízos de valor, acerca desta sucessão de factos.
Apenas registo.

Confusa nave

Uma das coisas que me diverte (e acho que me estou a repetir...) é a maneira como alguns blogues me classificam. Na coluna dos links, por exemplo.
O Mar Salgado decidiu pôr-me na categoria d'O Outro Bordo, o que, tendo em conta as circunstâncias, me pareceu um elogio.
Mas, com o que está a acontecer, já não sei que pensar. Enquanto alguns marinheiros se dedicam a dar porrada num blogue (Mostrengos), o comandante insiste em mantê-lo no grupo da Boa Onda.
Estou baralhado.

Habla conmigo

Depois da edição espanhola da Granta, chegou agora a vez de a Foreign Policy ter igualmente uma edição em castelhano.
Penso que não devem ser estas as razões que levam o senhor Mello dos bancos a querer ser espanhol. Mas que las hay, las hay...

Agenda

Textos a publicar nas próximas horas (é tudo uma questão de tempo...):
- A glória fácil de JPP
- Anabela e os blogues
- O clube selecto dos (blogo)Pedros.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2004

Ainda os media e o luto

Tinha decidido não voltar ao tema da cobertura meditática da morte do futebolista Fehér. Um texto do Miniscente, que já linkei, e um outro escrito hoje pelo Icosaedro levam-me, porém, a deixar aqui mais duas ou três reflexões. Confesso que o faço igualmente por um motivo egoísta - a organização de ideias. Por isso, vai tudo numeradinho...
1. Tenho uma visão bastante crítica acerca do sistema mediático, nacional e global. Os arquivos deste blogue aí estão para o provar.
A televisão, até pelo impacto que tem, assume claramente um lugar de destaque em qualquer crítica. Entre outros que poderia elencar, há três factores determinantes para a desregulação do nosso sistema mediático. a) a duração dos telejornais, pelo nivelamento que faz entre o que é verdadeiramente importante e o que seria dispensável; b) o peso dos directos, visto que os directos não são propriamente jornalismo, falta-lhes a selecção, a elaboração, a hieraquização, a mediação jornalística; c) a falta de preparação/profissionalismo com que a profissão de jornalista está a ser exercida.
2. Os problemas que se colocam em Portugal não são muito distintos dos que ocorrem lá fora, pelo que não me parecem justas as declarações de grande nojo à Pátria. Basta vermos, por exemplo, a Sky News para percebermos como um simples assassinato gera por vezes uma cobertura intensiva, distorcendo claramente as prioridades da informação. Isto para não falar da histeria global à volta da morte de Diana.
3. Os media são hoje também fonte de emoções. Para o bem e para o mal, não vale a pena fugir. Por exemplo, a transmissão directa e integral de um jogo de futebol é informação ou emoção? As pessoas que agora se indignaram com os excessos não são os mesmos que passam horas em estado letárgico em frente ao televisor a ver futebol?
4. Vivemos num mundo que produz informação em excesso. As pessoas que fazem blogues são, maioritariamente, pessoas com excesso de exposição a essa informação. Não se pode é ter sol na eira e água no nabal. Ter canais de informação 24/24 e depois não aceitar que esses canais repitam até à exaustão certas notícias.
5. O que notei no caso Fehér foi (desculpem a palavra, mas elas foram feitas para serem usadas...) uma enorme hipocrisia. Porque os blogues ainda hoje estão cheios de fotos do Fehér, homenagens aos Fehér, até blogues dedicados ao Fehér (!!!) e depois as televisões é que são acusadas de exagero.
6. Chegamos, então, aquilo a que chamaria de banalização da indignação. Aqueles discursos eivados de ataques aos jornalistas, fazendo apelo a uma ética não explicada. É um caminho de facilidade, tão demagógico como o objecto que pretende criticar.
7. Outro aspecto que considero importante tem a ver com o luto colectivo. Já o escrevi e insisto: o luto colectivo vive, não do silêncio, mas do ruído mediático. Os media exacerbam, mas também exorcizam a nossa dor. Há, por isso, pulsões contraditórias. Vemos para sofrer, porque, no fundo, queremos sofrer, precisamos de nos embrenhar no sofrimento colectico, mas rapidamente nos indignamos, numa lógica circular.

Case closed

Recomendo a leitura do texto «Não, não, Abrupto!», no Miniscente.

Vê Pê Vê

O que terá dado ao Contra a corrente e ao Liberdade de Expressão para começarem a publicar auto-retratos?

Amável

«(...) nunca vai conseguir me amar. Eu não sou uma mulher amável.»
A fala é da personagem principal de Acqua Toffana, de Patrícia Melo (Campo das Letras).
Não estava preparado para aquele amável. Amável é alguém que me segura na porta do elevador, que me fornece uma indicação na estrada.
Vou ter mais cuidado. «A senhora é muito amável...» E ela a pensar: «Mais um que me quer mostrar a colecção de borboletas...»
Amável, naquela acepção de disponibilidade, não encaixa na ideia que fui constuindo de «amor». Falta-lhe tensão.

Perdão (outra vez)

Hoje (ontem, quero eu dizer...) não foi um grande dia.
Desta vez, venho pedir desculpa à Doutora Ministra das Finanças e a todos os seus apoiantes. Afinal, o subsídio de refeição não aumenta 10 cêntimos, mas sim 12. Abençoados 2 cêntimos. Todos juntinhos, ao fim do mês hão-de dar para encomendar mais um daqueles pequeninos pacotinhos de manteiga (será que dá para os que têm sabor alho e salsa?). Como haveremos de lhe agradecer Senhora Doutora Ministra de Todos Nós?

terça-feira, 27 de janeiro de 2004

Perdão

Venho de cabeça baixa. Envergonhado. Já agora, venho com a corda na garganta.
Por causa daquela coisa do Icep.
O que é que querem? Ouço falar em certas coisas, o Icep, por exemplo, e os meus olhos transformam-se em cifrões, como nos desenhos animados.
Em Portugal, há malta, e há empresas, e há coisas do Estado, onde se nada em dinheiro, se ganha muito dinheiro, se gasta muito dinheiro, para no fim se fazer mais ou menos o mesmo que nós, os outros, ou seja muito pouco.
Quando ouço esses nomes mágicos, cometo uma data de pecados mortais em sequência, do tipo ganância, cobiça, inveja...
Foi isso que aconteceu hoje. Eu não quero mesmo um tacho lá fora...
PS: parece que, afinal, era só um vírus. Só me cobre ainda mais de inveja.

Lost in translation

P: По отзывам прессы спектакль «Оскар» стал знаменательным событием на московской сцене, «первой ласточкой» в деле возрождения традиций настоящей русской антрепризы?
R: λαμπρά μαβιά, και κίτρινη όχθη, όλα.
?: Deixo a questão: Para quando uma separação absoluta dos públicos?

Oferta de emprego

O meu computador acaba de bloquear um mail oriundo do Icep devido à detecção de um vírus.
Se se tratava de uma oferta de um posto de adido de imprensa, cultural ou empresarial em qualquer cidade dos Estados Unidos, Brasil, Japão, cidades europeias a Norte de Madrid e a Oeste de Praga, informo por esta via a direcção do Icep que pode utilizar o telemóvel, a carta, o fax, a teleconferência... Sou todo ouvidos.

Stand up reality

Boa ideia, esta do Outro-eu de contarmos umas piadas para aliviarmos o ambiente. Afinal de contas, a realidade torna-se frequentemente numa stand up tragedy, que na nossa imensa capacidade de perdão transformamos em comedy.
Às vezes, a piada até se desdobra ela própria em sub-piadas. Por exemplo, o Outro-eu acha graça ao facto de o Ministério da Justiça fugir aos impostos. Ora eu acho ainda mais graça ao facto de esse descarado crime fiscal ir ser resolvido através de um acordo com o Ministério das Finanças. Não sei o que será mais estimulante para o cidadão-contribuinte, se o exemplo da fuga, se o do perdão.
Mas o meu contributo para a vossa boa disposição não era bem este. Era mais este: o Governo propõe um aumento de 10 cêntimos para o subsídio de refeição. Tendo em conta o aumento dos preços nos restaurantes desde a entrada do euro, esta proposta arrisca-se a ganhar um qualquer prémio para a anedota do ano, da década, do século...

Mentiras e decepções

Segundo o Guardian de hoje, a história de que Saddam poderia activar armas de destruição maciça em 45 minutos terá sido fornecida aos serviços secretos por iraquianos no exílio, sem qualquer base credível de sustentação.
O facto de a história estar a ser revelada por um jornal próximo dos trabalhistas (embora se tenha distanciado na guerra do Iraque), na véspera do relatório Hutton que ditará o futuro de Blair, poderá ser sinal de que Downing Street se prepara para o pior e começa a arranjar bodes expiatórios.
Mas a notícia levanta outro problema.
Há uns meses, a Casa Branca fez saber que muitas das informações erradas acerca do regime de Saddam - por exemplo, o poderio da famosa Guarda Republicana, que se prepararia para defender Bagdad a todo o custo - teriam sido fornecidas pela oposição no exílio, nomeadamente por Ahmed Chalabi, hoje na primeira linha para o assalto ao poder na era pós-ocupação.
É natural que os exilados iraquianos, embora tendo acesso a alguma informação do que se passava dentro do país, tenham exagerado na forma como a transmitiram aos aliados ocidentais. Queriam, afinal, forçar a invasão, procuravam aliados.
O que é espantoso é a alegada ingenuidade com que os serviços secretos de Londres e Washington paparam essa informação. Isto na versão ingénua. A versão que atribuiu às deficiências dos serviços secretos a derrota moral que constituiu a guerra do Iraque.
Porque, a História talvez o venha a esclarecer mais cabalmente, o verdadeiro problema poderá antes residir no facto de que, nesta era de super-informação, de aparente transparência, paradoxalmente a mentira se esteja a afirmar como instrumento fundamental da governação.

O clube dos «links» mortos

A nova versão, mais afinada, do Tecnhorati devolveu-me ligações antigas. Ligações, algumas delas, que desconhecia de todo. Experiências, testes, passos titubeantes, muitas desistências... O retrato de um big-bang blogosférico, com o seu cortejo de planetas e cometas, estrelas e meteoritos, mas, inveitavelmente, também muito lixo cósmico e até um ou outro buraco negro.
Por falar nisso... nas últimas semanas surgiu uma mão cheia de blogues novos a merecerem alguma atenção. Um destes dias, será dia de actualização de links.

Aux armes et caetera

Nos últimos tempos, semanas, meses, tropeço com alguma frequência em Serge Gainsbourg. A penúltima vez foi sábado à noite na Culturgest, na fragilidade de Jane Birkin. A última foi ainda agora, aqui. Sous le soleil exactement.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2004

Audiências?

À hora a que Fehér morria, vi um documentário sobre Marianne Faithfull na Dois, espreitei um debate na SIC Notícias, vi o Herman José conversar com Jô Soares na outra SIC e ainda tive tempo de ver Pedro Abrunhosa a solo na Operação Triunfo na RTP.
Na noite em que Fehér morreu, a SIC Notícias, cuja missão central é dar notícias, teve tempo para emitir um debate moderado por Maria João Avillez (uma hora) e a Quadratura do Círculo (outra hora).
Um dos jornais de referência portugueses (DN) não fez manchete com a morte de Fehér.
Custa-me entender, por isso, a barreira de críticas que se abateu sobre os media.
Principalmente, custa-me perceber o argumento de que se tratou de uma caça às audiências. Na noite de domingo, pareceu-me até que a programação era especialmente variada e até com alguns motivos de interesse. Além de que não percebo como é que a exibição, alegadamente exagerada, da morte do futebolista gera audiências. Pelo efeito de repetição? Teremos, então, de rever uma data de teorias sobre as audiências.

Lutos

As vidas públicas não têm mortes privadas. Nós, os que alimentamos os mitos, sentimo-nos no direito de, na hora da morte, termos o nosso quinhão de sofrimento, de dôr. Lembram-se da princesa Diana?
O luto colectivo faz-se, não dos silêncios de que é feito o verdadeiro luto, mas do ruído mediático.
Sem esse ruído de fundo não existiriam as condições necessárias à comoção individual.
O Fehér não era propriamente um futebolista de primeira linha. No entanto, a comoção (tomo a blogosfera por exemplo) foi generalizada. Precisamente porque as televisões (e os restantes media, numa segunda linha) criaram o ambiente propício.
À semelhança do que acontece na cartarse do luto privado, o que procuramos no inebriamento das imagens é uma espécie de hipnose. Daí que aqueles que hoje mais criticam a sobre-exposição das imagens da morte de Fehér sejam, muito provavelmente, os que mais deliberadamente a elas se expuseram.

As perguntas

Como pode, alguém, tão jovem morrer assim, de repente?
Como pode um desportista de alta competição morrer desta forma?
Como pode alguém sorrir, virar as costas ao sorriso, e cair morto?
E o resto?
Existiam meios, profissionais, equipamento no estádio para acudir a uma situação destas?
Os meios externos de socorro foram accionados em tempo útil?
Foi feito tudo o que era possível fazer para salvar aquela vida?
E antes?
Os clubes de futebol fazem exames a quem mandam para os relvados?
Há assistência, vigilância continuada?
Será um caso de doping?
Pelo que se percebeu até agora, tudo foi feito. No estádio, havia equipas médicas preparadas e até um desfibrilador - tomáramos nós ter um à mão o tempo todo -, a ambulância não se demorou...
Pelo que se percebeu, tratou-se apenas de um daqueles casos em que a morte foi mais teimosa.
Mas as perguntas têm de ser feitas. Que diabo, não se pode morrer, assim, num estádio de futebol, como se isso fosse natural. Não se pode morrer, sem saber porquê, seja onde fôr. Já basta a inevitabilidade...
Por isso não compreendo a indignação que se grita, por exemplo, aqui.

As imagens

Há, naquelas imagens obsessivamente repetidas de um homem de vermelho que tomba desamparado, uma certa banalização da morte.
Mas há, acima de tudo, a nossa incredulidade, o nosso espanto perante a fragilidade da vida.
Por isso, estas imagens são tão fortes.
Resisto a comparações. Mas, de certa forma, estas imagens são mais fortes que aquelas da captura da Saddam, ou do derrube da sua estátua em Bagdad. Essas são imagens da inevitabilidade. Queremos vê-las para nos assegurarmos que sim, aquilo aconteceu.
Estas são imagens do espanto. Queremos vê-las para pensarmos que não, não é possível que a nossa vida esteja presa, assim, por tão frágeis fios.
Resisto novamente a comparações, meço as distâncias, reduzo a escala e faço todas as ressalvas - mas não posso deixar de pensar no 11 de Setembro. Porque, também aí, dizíamos que não, não é possível.
Por isso, e porque não vislumbro ali caça à audiência ou sequer exploração da dor alheia, por isso compreendo aquelas imagens, a sua repetição. São as imagens do nosso espanto, como se, de repente, todos nos interrogássemos: «O quê? A vida pode acabar assim...?»

Falta de humor ou falta de seriedade?

O respeito que certos media têm pelos leitores vê-se nas pequenas coisas.
Há umas semanas, o Expresso publicou, na primeira página, aquela patetada do advogado do Bibi que ia ser do Saddam.
Agora, em vez de desmentir com seriedade uma notícia que tinha dado a sério, faz uma brincadeira parva na revista, desmentindo e tentanto ter graça ao mesmo tempo.
Como se sabe, o sentido de humor é coisa que não abunda por aquelas bandas. Porque não deixam essa parte das piadas com o Inimigo Público e tratam de dar notícias (e desmentidos) a sério? Ah, pois, já estão desabituados de distinguir a verdade/seriedade da mentira/humor...

Mariana cheia de fé

Oh Lutz... estás mesmo a precisar de melhorar esse português... Na leitura, não na escrita.
Eu escrevi que tinha passado pela Sic Notícias. Mas o que eu estive mesmo a ver foi a Marianne Faithful [a semana passada tinha passado outro documentário sobre a Janis Joplin, que, de resto, já tinha visto]. O documentário só tinha mesmo um defeito: acabava em 1999, o que em televisão é imperdoável.

Autores e direitos (II) [act.]

No Adufe salienta-se o sentido ético que ainda impera entre os blogues no que respeita aos direitos de autor.
A verdade é que somos todos (ainda) uns líricos. Basta que os cifrões comecem por aí a circular (não me quero armar, mas sinto um cheirinho...) e talvez as coisas mudem.
O Adufe coloca ainda outra questão interessante - a relação entre entre os blogues e os media tradicionais.
E se um jornal começasse a publicar os textos que por aqui deixamos (o DNA já o fez episodicamente)? Tendo em conta o relativo anonimato em que navegamos, como seria regulada a coisa? Imaginemos, por exemplo, que um jornal publicava amanhã alguns textos de um blogue muito na moda atribuindo-os à sua presumível autora... Que consequências teria isso?
O ContraFactos remete-nos para a questão da tirania do copyright. Para já, por aqui, a questão talvez seja ainda teórica, estamos na era do défice do copyright. Mas lá chegaremos.
Gostava ainda de fazer um esclarecimento: longe de mim qualquer cruzada quanto aos direitos de autor. Cada qual é responsável pelos actos que pratica.
[Actualização: o Janela para o Rio mostra algum enfado com estas coisas dos direitos do autor. Mas a verdade é que até as domésticas andam preocupadas...]

domingo, 25 de janeiro de 2004

Conversas em família

Passei há bocado pela Sic Notícias. A Maria João Avillez estava a discutir não sei o quê com o Pedro Lomba, o José António Saraiva e o Pedro Magalhães. Mais um exemplo de diversidade ideológica.
São tão reconfortantes estas conversas em família...

Hospitais

O Bloguitica relata uma boa experiência num hospital belga (público/privado?) e uma má experiência no Amadora-Sintra (português, público, com gestão privada).
Tenho para a troca uma boa experiência no Santa Maria (português e público puro).
Devido a um acidente escolar, tive de lá ir com o meu filho. Em duas horas, sem cunhas, passámos pela chamada triagem, estivémos com dois médicos, fizémos uma radiografia, vimos o resultado, pusemos uma ligadura no pé e regressámos a casa.
Só para equilibrar a estatística...

A culpa é do vermelho, planeta vermelho

Fui espreitar o planeta. As primeiras e fantásticas imagens do planeta Marte enviadas pela sonda Opportunity.
Mas eis que, na mesma página da MSNBC, duas notícias me chamam a atenção:
- as dúvidas de Colin Powell sobre a existência de armas de destruição maciça no Iraque
- uma sondagem da Newsweek que põe John Kerry à frente de todos, George W incluído.
Não fiz de propósito, juro. A culpa é dos marcianos.

Pingue-pongue

Depois do blogue e da versão newsletter, o Bloguítica chegou ao papel impresso. Para variar, não foi no Independente...
No mesmo Público, mais um interessante artigo de Mário Mesquita sobre um assunto que a blogosfera já debateu (e que ocupa alguns bytes do TdN): «O panorama dos comentaristas do "prime-time" das televisões generalistas é, no mínimo, preocupante.» Pois.

Autores e direitos

A questão dos direitos de autor é pouco atraente, ainda mais num meio, como o dos blogues, que vive quase exclusivamente no anonimato e em que a citação é muitas vezes um estilo de vida.
De qualquer forma, como há dias abordei o tema e recebi dois reptos (Adufe e ContraFactos), aí vai uma meia dose para reflexão.
Não me parece que seja legal (ético nem sequer se fala...) a publicação que por aqui fazemos de textos, poemas, fotos, desenhos, cartoons, músicas, pelo menos quando feita na íntegra. Em alguns casos, bastaria um simples pedido de publicação para que a situação fosse clarificada, mas isso daria muito trabalho, além de que as empresas (pelo menos as nacionais...) não devem estar preparadas para uma avalanche de pedidos desse tipo.
Isto porque a legislação permite a publicação desse tipo de obras apenas para fins de divulgação, conceito um pouco vago, é certo, mas que certamente não caberá na publicação integral e continuada a que se assiste nos blogues. Parece ser do senso comum que uma coisa é a citação breve, outra é a reprodução integral ou mesmo de alguma extensão. A lei permite a cópia ou a utilização para fins exclusivamente pessoais [a cópia de um CD que tenhamos comprado para usar no carro é legal], mas os blogues são claramente um media para divulgação pública e geral.
Isto cobre, naturalmente, os artigos de opinião publicados nos media [é de legalidade duvidosa que um autor publique um artigo num jornal e o divulgue no blogue pessoal, visto que a propriedade original, se nada tiver sido contratado em contrário, é repartida], mas a dúvida levanta-se quanto às chamadas notícias.
É óbvio que os acontecimentos são do domínio público e tem sido considerado que os relatos breves e genéricos também o são.
Mas as notícias, com pormenores, declarações, investigação própria, não.
Veja-se, por exemplo, as anotações que surgem junto às notícias de uma conhecida agência (Reuters):
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e de um jornal muito conhecido (The New York Times):
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Neste site, há muita informação sobre o assunto.

sábado, 24 de janeiro de 2004

Caso sério

Chegados aqui, pergunto: o que será mais brochante (*)
1. o blogue não ser da autora ?
2. a blogue ser da autora ?
(*) brochante: que ou o que tira o entusiasmo. Dic. Houaiss, edição original, em brasileiro.

Tiro na água

O Liberdade de Expressão tem um texto (!) delicioso no qual tenta desvalorizar a descoberta de água em Marte pela Mars Express... mas em que, na realidade, acaba por provar exactamente o contrário. É que as descobertas anteriores eram, afinal de contas, meras suposições, projecções, probabilidades, conjecturas, sonhos...

sexta-feira, 23 de janeiro de 2004

A Outra Anabela

O Outro-eu (ora, então, muito re-bem-vindo...) ouviu a Anabela Mota Ribeiro, na Antena 2, desmentir a autoria do famoso blogue. Eu não ouvi a Antena 2. Se tivesse ouvido, juraria que não era ela.
E é claro que este texto que aqui acaba não foi escrito por mim. Foi Outro.

O cão a seu dono

Dei-me conta (através do Icosaedro) de uma curiosa polémica entre o ContraFactos e Nuno Markl, autor do Homem que Mordeu o Cão.
O primeiro contesta que o segundo utilize histórias sem sequer citar as fontes. O segundo argumenta que as histórias estão por aí, na Net, por exemplo, que são notícias e que o real não tem direito de autor.
Nada de mais errado. A questão que se coloca nem sequer é apenas a de direito de autor. É mais a de direito de propriedade.
Os media pagam quantias avultadas para utilizarem as notícias das agências. Um jornal que não tem assinatura de uma determinada agência não pode usar os seus serviços, nem que os colha na Net. Qualquer página web bem construída explica, bem explicadinho, que aquilo que lá está não pode ser usado sem autorização do autor, sem citar a fonte e, em alguns casos, sem um pagamento do serviço utilizado.
Na Net, e agora especialmente nos blogues, tornou-se hábito usar todos os tipos de material (textos, fotos, cartoons...) sem qualquer respeito pelos seu autores/proprietários. Uma coisa é uma citação ilustrativa, uma referência breve. Outra é a citação extensiva, a republicação.

Vermelho vivo

A sonda europeia Mars Express encontrou água em Marte.
As grandes notícias escrevem-se em poucas linhas.

Ão ão, ão ão...

Estive a folhear o Independente. Está muito melhor. Está menos... abaixo de cão.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2004

Imagens (agora, com imagens...)

O Icosaedro, que tem um dos blogues mais bonitos/interessantes do momento, publica um texto (ilustrado...) acerca do tema das imagens que aqui abordei. E coloca a questão em termos técnicos, coisa que eu seria incapaz. Afinal, é possível usar imagens de forma a não atrapalhar quem lê. Se um dia as usar, já sei a que porta bater.
PS: faço coro na lamentação pela (aparente) perda da Spirit.
PS 2: por falar em imagens... o Retorta promete ajudar na construção de um blogue sobre Camus, proposto pelo Abrupto. Uma garantia acrescida de bom gosto.

110$27

Tomei a bica num daqueles quiosques de centro comercial. Pediram-se 55 cêntimos e fiquei surpreendido. Costuma ser 50, às vezes 45... Mas 55? Fiquei surpreendido.
Indignado fiquei quando me puseram à frente um pequeno recibo «não serve de factura». Ali ficava claro que acabara de pagar 110$27 por um café. Para os menos nostálgicos, traduzo: 110 escudos e 27 centavos.
Ora isto é uma desonestidade. Quando o euro chegou, havia uma lei que proíbia estes arredondamentos prejudiciais ao consumidor. Ou seja, o simples e obrigatório câmbio não poderia ser motivo de lucro.
A verdade é que, no tempo do escudo, ninguém me venderia um café por 110$27. Eu esperaria, por isso, que agora me vendessem um café sem os 27 centavos, ou seja, um pouco abaixo dos 55 cêntimos.
Dirão - mas que palermice, tanto barulho por 27 centavos.
Discordo. 27 centavos multiplicados por muitos cafés, por muitos dias, dá uma pipa de massa. Mas o pior não é isso: é a desonestidade. Vendem-me um café como se ele valesse 110 paus e, afinal, vale mais uns tostões.

Fuga para trás

A fuga para a frente costuma ser uma das saídas dos políticos em apuros. Há um problema? Inventa-se um facto novo para desviar as atenções.
Esta passagem do bloco PSD/CDS pelo poder em Portugal veio introduzir uma profunda ruptura na acção política. Agora, o que está a dar é a fuga para trás.
Tudo, rigorosamente tudo, o que possa ter impacto negativo junto da opinião pública é justificado com os erros do governo anterior. O autor da ideia foi Durão Barroso ainda durante a campanha eleitoral, mas a sua mais excelsa executora tem sido a ministra Ferreira Leite.
Santana Lopes é o mais recente adepto.
Há um problema com a altura de umas torres em Alcântara? Pois denuncie-se umas torres que o anterior executivo deixou fazer. Há um problema com o túnel do Marquês? Pois investiguem-se os túneis mandados fazer pelo antecessor.
Como táctica de auto-desresponsabilização não está nada mal.

Ainda as imagens (uff)

Não vamos criar polémicas sem sentido.
Escrevi uns textos sobre imagens que tiveram duas ou três respostas. Na Espuma dos Dias, no Mar Salgado e no Food-i-do, por exemplo. O ABsurdo(.) discorda do que escrevi e desafia-me a descrever, apenas por palavras, uma imagem que publica. Ora o ponto não é esse. O que eu escrevi (e talvez não me tenha feito entender) foi o seguinte:
Eu não uso imagens, porque acho que o que eu tenho a dizer não precisa delas.
Noto que, nas últimas semanas, houve uma explosão na utilização de imagens na blogosfera, na maior parte dos casos de forma completamente supérflua.
Acontece que as plataformas em que estão alojados os blogues não estão preparadas para esta invasão. Acontece também que muitos bloggers utilizam recursos tecnológicos cruzados para a colocação de imagens. Acontece que tudo isto torna extremamente penosa a leitura de um número crescente de blogues.
Acontece ainda um outro pequeno pormenor: na maioria dos casos, há um desrespeito total pelos direitos de autor.
Dito isto, sempre acrescento que há muitos bons blogues só com imagens e até alguns bons blogues de textos em que as imagens fazem todo o sentido. O ABsurdo(.) até é um deles.
Esclarecidos? Ou terei de fazer um desenho?

quarta-feira, 21 de janeiro de 2004

O estado do W.

Estive a ouvir o discurso do estado da União do George W.
Lá amanhou umas larachas sobre a descoberta de «dozens» de coisas vagamente relacionadas com armas de destruição maciça.
Fiquei mais descansado - continua o mesmo mentiroso de sempre.

(Nocturno) Acentuado arrefecimento

Em dias como estes íamos à escola de luvas de lã, brincávamos com o fumo que saía da boca.
A erva dos passeios esbranquiçava, quebrávamos os finas camadas de gelo nos tanques de lavar a roupa.
Depois do almoço, os becos da aldeia enchiam-se de banquinhos de pinho e verga. Vínhamos da escola para a beira dos velhotes, de manta nos joelhos.
Aquele sol, quentinho!, as contas da tabuada, mais os reis de Portugal, os rios de Angola e os comboios de Moçambique. O pão com manteiga e açúcar.
Eram cinco e já o sol definhava. Jogávamos às escondidas - se uma casa o tapava, puxávamos o banco para aquela nesga, recuávamos contra a parede. Não havia nada a fazer, já os primeiros odores das pinhas e das madeiras crepitavam por toda a aldeia.
Recolhíamos ao lar, não era lareira, era lar, daquelas lareiras grandes, com pessoas dentro. Onde também já fervilhavam os feijões, as couves, odores inesquecíveis, a que o azeite cru haveria de dar o travo que ainda hoje se persegue.
Àquela hora, havia história antigas, o som de uma motorizada ao longe, alguém da família que aparecia. Os mais novos que teimavam em revolver as brasas com a tenaz. A água que se punha a aquecer para a botija que te esperava na cama.
E havia a certeza que nem sequer te assaltava de que amanhã voltarias percorrer os mesmos caminhos da escola, como se tudo fosse natural, estivesse no seu lugar e tivesse de assim ser. Emocionas-te é agora.

Post-it

Agenda para dia 21 de Janeiro, quarta-feira:
Ida ao psicanalista. Explicar que, pela primeira vez, estou de acordo com um texto do Mar Salgado (A/C do António Colaço). Perguntar se é grave, se se pega e se terá efeitos secundários.
Agenda para um dia destes:
Telefonar ao Colaço para marcar um almoço ali pelas bandas da Assembleia.

Cruzeiro do Sul

A versão brasileira do Aviz parou no dia 17, indiferente à original, que prosseguiu caminho.
Às vezes, as máquinas são assim. Comovem-se com os passos do criador, também elas partem atrás do Cruzeiro do Sul.

A estética e a técnica (com um nadinha de ética)

Não coloco imagens no blogue por opção. Gosto da palavra e pressinto que, na quase totalidade dos casos, a imagem nada acrescentaria ao que escrevo.
Mas já percebi que a tendência maioritária passa pela colocação de ilustrações. Acontece que a maioria dos blogues com imagens tornam-se muito pesados, até porque parece que, mesmo parada, a imagem é viciante (afinal não é só na tv) e, quem põe uma, põe logo outra a seguir.
Eu tenho acesso à Net em banda larga, embora nem sempre nas melhores condições, e começo a cansar-me de consultar alguns blogues com imagens, principalmente os que usam muitas imagens e imagens muito grandes.
Imagino o que deve acontecer a quem consulta blogues em condições menos favoráveis... deve ficar horas à espera que aquilo se desenrole tudo à sua frente.

terça-feira, 20 de janeiro de 2004

Abruptamente, uma nova bomba inteligente (na versão original)

O Glória Fácil regista que a Anabela Mota Ribeiro lê a Odisseia, no original, não percebendo patavina de grego.
Ora aí está uma informação de toda a utilidade para o Abrupto e a Bomba Inteligente.

Fortaleza de areia

É nestas alturas que não me importo um bocadinho de não ter imagens no blogue. Para melhor sorver a descrição. Ao contrário do que dizem, não há nada com mais força que a palavra.
No centro está um castelo de areia, mal amanhado. Rodeado por uma cerca, câmeras e outros instrumentos. O castelo tem a bandeira dos Estados Unidos no topo e, por ele abaixo, pendem soldados, misséis, tanques.
Observando, ocupando as duas páginas a cores, está um indiano, um africano, um latino, um mulçulmano, um europeu...
O cartoon a duas páginas abre a reportagem sobre a Cimeira de Davos, sob o título «What the world needs now», na edição desta semana desse farol do anti-americanismo que se chama Time.
[Actualização: os descrentes no poder da palavra, podem espreitar aqui.]

segunda-feira, 19 de janeiro de 2004

Diálogos, recados e declarações

1. Nas últimas semanas, mantive um animado diálogo com o Contra-a-corrente a propósito dos textos de João Pereira Coutinho. Curiosamente, cada vez que a conversa se desenvolve, acabo por verificar que são muitas as coisas em que, afinal, concordo com o MacGuffin. Por exemplo, as angústias acerca do aborto. Presumo que só nos dividimos na resposta à angústia: ele talvez prefira deixar tudo como está, eu prefiro claramente testar outras soluções. Nada do outro mundo. Há, porém, algo de de inultrapassável nos nossos diálogos: ele tem pelo Coutinho uma admiração que só uma grande amizade pode justificar. Ou talvez seja o contrário... Eu tenho pelo mesmo Coutinho fortes reservas intelectuais, que a figura nem sequer a conheço. Por mais voltas que possamos dar, sobre isso nunca estaremos minimamente de acordo.
2. O António Colaço cultiva o convívio. Gosta de estar com os amigos. Inventa reuniões de blogues, encontros disto e daquilo. Eu, por comodismo e talvez por opção, «passo ao lado». Não sei o que hei-de pensar daquele «obrigado pelo teu silêncio», pá!
3. O Notas Verbais, já muitos notaram, está de regresso. Pela amostra, em forma.
4. Um dos leitores (e colaboradores) mais fiéis do TdN decidiu criar o seu próprio blogue. Tem um nome bonito, a Nova Floresta, e até agora gostei do que li/vi. Ciumento, só espero que não lhe tire a vontade e o tempo de por aqui passar.

Flash (ah ah...) is back

O Flashback... perdão, o Quadratura do Círculo (em mesa triangular) já tem blogue. É no Sapo e é interactivo.

How to make Africa smile

A Economist desta semana tem um dossier especial sobre a África sub-saariana cujo título quase comove: «How to make Africa smile». Lá dentro há os sempre muito informados textos sobre economia e política. Sobre o que nós, ricos, podemos fazer; e sobre o que eles, pobres, já estão a tentar fazer. Tudo enquadrado por aquela jovem negra, sorrindo, não propriamente entre ruínas, mas em plena miséria. E, claro, aquele título: «How to make Africa smile». Dir-me-ão que é de utopia, de sonho, que falamos. Discordo: raramente os media conseguem sintetizar tanta informação em apenas cinco palavras.

Atenção, anti-alterglobalizadores (!), afiem o dente

Vejam só esta notícia acabadinha de chegar, via France Press:

BOMBAY (Inde), 19 jan (AFP) - Un juge sud-africain participant au 4e Forum social mondial (FSM) à Bombay a été arrêté lundi à la suite d'accusations de viol par une collègue représentant une organisation luttant contre le Sida, a annoncé la police indienne.

Calor que mata

Em 2003, terão morrido em Portugal 2007 pessoas devido ao calor. Muito mais que os 4 (?) mortos de que falava o ministro da Saúde em Agosto do ano passado.
Na altura, expressei o meu cepticismo sobre o assunto.
Agora registo outra perplexidade: morre mais gente por causa do calor do que em acidentes de viação. De acordo com as bitolas muito em voga entre nós, estaremos, pois, perante outra «guerra civil».
É claro que o facto de a notícia do DN desmentir tão frontalmente as estimativas do ministro não vai ter qualquer impacto político. Incómoda talvez fosse uma noticiazita sobre os efeitos mortais do frio brutal que pr'aí vai.

A mentira por detrás do namoro

Luís Salgado de Matos escreve hoje, no Público, um texto muito interessante sobre os estudos acerca da violência no namoro entre adolescentes e universitários.
Como já escrevi há uns dias, aqueles estudos são muito intrigantes e receio que estejamos perante mais um caso de manipulação politicamente correcta.

Why don’t we break up

Anda aí uma nova campanha da Vodafone cuja banda sonora é a canção Sexed Up, de Robbie Williams.
Eis o refrão que se ouve durante o anúncio:
«Why don’t we break up, There’s nothing left to say.»
Para anúncio de telemóvel... parece-me muito apropriado.

domingo, 18 de janeiro de 2004

Fujam... vem aí mais um texto sobre o Coutinho

Deus me guarde de me tornar numa espécie de Provedor dos Leitores do João Pereira Coutinho. Mas, o que querem?, o Expresso já custa três euros e uma pessoa, para não se sentir (muito) roubada, acaba por ler aquilo de fio a pavio.
Esta semana, deveria ter simplesmente feito como A Praia: o texto sobre o aborto é um vómito. Ponto.
Mas não, escrevi uma frase inteira e o Contra-a-Corrente dasata logo a charmar-me de «infectível da objectividade». Ora uma pessoa não se pode ficar perante insultos deste calibre.
O meu problema com o JPC (espero que os fãs não se abespinhem por lhe encolher o nome...) é que nem sei por onde começar. Porque, verdadeiramente, aquilo não tem ponto por onde se lhe pegue. Falo do texto sobre o aborto, como poderia falar de outros abortos produzidos desde que o topo.
Por exemplo, aquela de o aborto não dever ser descriminalizado mas de as mulheres que o praticam não deverem ser penalizadas é uma ideia tão estapafúrdia que nem parece saída de uma arrumada e ilustrada cabecinha de um lídimo representante da direita, mas antes de um anarca espanhol ou de um pacifista indiano - um autêntico apelo à subversão da ordem, à resistência à lei, em suma, à pura bandalheira.
Eu disse bandalheira? Que disparate! Então, não se está mesmo a ver como se conciliam as coisas? «É possível, perante casos concretos, exibir uma sensibilidade sobre a matéria que não passa por uma condenação em tribunal».
A ideia, admitamos, é tão brilhante que deveria ser constitucionalizada. Os deputados deviam pôr, logo no início da Constituição, um parágrafo assim: «Para casos aparatentados a berbicachos, deve exibir-se uma sensibilidade sobre a matéria que não passa por uma condenação em tribunal». Por exemplo, um gajo é pobre, está com uma fome do caraças e dá-lhe para assaltar a pastelaria da esquina. Diz o juiz: «a minha sensibilidade sobre a matéria não passa por uma condenação». O mesmo se poderia aplicar a outros casos bicudos, como o das viagens dos deputados, os quais, bem vistas as coisas, quando viajavam à custa de todos nós era só para satisfazerem as mais que compreensíveis necessidades de amor e carinho das suas amantes... perdão, secretárias.
Quanto àquela coisa de o João (os fãs compreenderão esta minha familiaridade...) se atirar aos abutres dos políticos, eu até o compreendo. Também eu concordo que os deputados em caso algum deveriam preocupar-se com os problemas concretos das pessoas. Deviam, aliás, ser proíbidos de se misturarem com a populaça. Era só o que faltava!

Sugestão para uma noite de domingo

É um dos meus blogues favoritos do momento. O Icosaedro. Vale a pena espreitar aquela sequência de imagens, música e textos.

O «torpor lamuriento» (um contributo)

Recomendo vivamente o artigo de Pedro Magalhães, no Público de sábado, em resposta a um texto de José Cutileiro, na edição de terça-feira do mesmo jornal.
Em traços gerais, o sociólogo rebate a tese do «torpor lamuriento», segundo a qual o povo, esse mal agradecido, só sabe criticar, exigindo ao Governo as soluções para tudo e mais alguma coisa.
Magalhães enquadra, naquele seu estilo sereno e informado, o tema da desilusão que atravessa as democracias ocidentais e até explica como a passividade/alheamento dos portugueses, em vez de pôr em causa o regime democrático, até facilita a vida ao Governo.
Ora bem. Durante cerca de um ano e meio escrevi semanalmente sobre a política portuguesa, precisamente na fase de transição de Guterres para Durão. Como era obrigado a escrever, lia tudo (ou quase...) o que se escrevia e reflectia (na medida das minhas capacidades...) antes de alinhavar umas ideias.
Uma das constatações que retirei desses tempos encaixa na perfeição na tese defendida por Pedro Magalhães.
Conforme os ciclos políticos, os intelectuais de cada campo político têm tendência a pôr toda a sua capacidade de análise ao serviço do ideal que defendem. Sejam professores universitários, poetas, eurodeputados ou simples jornalistas.
E uma das teses que sempre vinga quandos os governos começam a revelar dificuldades é a de que o Governo governa bem, o povo é que não entende. Há quem se fique pela tese das falhas de comunicação, de que já aqui falei, e há quem vá mais longe e teorize sobre a indiferença, quase a maldade dos povos, sempre dispostos a achincalar o que os governos querem fazer.
Na fase final de Guterres, a generalidade dos comentadores pró-socialistas expandiam essa tese. Que nos últimos meses ressurgiu, agora na pena dos comentadores pró-PSD. É ver o pessoal muito angustiado a escrever sobre a choldra deste país que não está preparado, não percebe, nem quer perceber, o bem iluminado caminho pelo qual o Governo nos quer conduzir. O artigo de José Cutileiro foi apenas um entre muitos.
Se alguma novidade há nesta argumentação, é apenas o momento em que surge. Mas a aceleração do ciclo político é história para outra ocasião.

Sai uma adufada

O Adufe escreveu há dias um texto sobre esta humilde casa eivado de elogios excessivos. Que agradeci via mail, esquecendo-me que a elogios públicos devem corresponder agradecimentos públicos.
Aqui estão eles.
E logo num dia em que o Rui deve estar certamente a comemorar, com licor de poêjo, o bem merecido prémio dos leitores da Ânimo.
PS: e já pagaram o IRS e o IVA correspondente ao prémio?

Um texto que é um verdadeiro aborto

É pena que o assunto seja trágico. Caso contrário, o que João Pereira Coutinho escreveu no Expresso sobre o aborto seria um sério candidato à Palermice Mais Cómica e Descabelada de 2004.

sábado, 17 de janeiro de 2004

O respeitinho é muito bonito

Um dos maiores bancos portugueses pagou esta semana uma viagem de luxo a um grupo mui seleccionado de jornalistas.
Agora tentem encontrar o nome desse banco em notícias repetidas ao longo das muitas páginas de um grande jornal que se publica aos sábados em Lisboa.

Eu voto MST

Esqueci-me de registar, mas se calhar não era necessário. Nas eleições americanas, voto Miguel Sousa Tavares.

Sozinha no sofá

A Isabel Figueira surgiu-me hoje de novo num anúncio a uma marca de sofás. E a perturbante frase: «Quando estou com a [marca do sofá] não estou para mais ninguém».
É uma pena. Parece-me um desperdício de sofá.

As cicatrizes da liberdade de imprensa

O 24 Horas de sexta fazia manchete com Cinha Jardim. Diz que fez uma plástica total e que, por isso, só vai sair à rua quando estiver completamente cicatrizada.
Ao lado, a revista Lux anuncia em manchete as primeiras fotos de Cinha Jardim após a plástica.
Eis para o que serve a liberdade de imprensa.

Palavra de Frei

Motivos que nem imaginam puseram-me esta tarde, durante breves minutos, em frente a uma televisão em que Frei Hermano da Câmara (!) interpretava, num playback completamente desajustado, um dos seus velhos êxitos.
Por linhas tortas, Deus nem sempre consegue escrever direito.

Media (serviço público)

O Libé publica dia 22 mais um dos seus fantásticos números totalmente ilustrados em BD, a propósito do Festival de Angoulême. Quem não conhece, tem agora uma boa oportunidade.
O Le Monde lança hoje a sua nova edição de fim-de-semana, que inclui a revista Le Monde 2, a qual passa de mensal a semanal. Infelizmente, o pacote só está disponível na França metropolitana (curiosa designação) e nos países satélites.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2004

Baforadas

Estou mesmo a ver o Estrangeirado de Londres a dar umas baforadas de Marlboro nos elevadores da City.
[Private joke, ou talvez nem por isso.]

Terrorismos

O Valete Fratres gosta muito da imprensa estrangeira (enfim, de alguma...) e gosta da democracia (enfim, de alguma...) e gosta de maneira como o eixo Bush/Sharon (aqui sem reticências) lida com o terrorismo.
Pois eis como o Economist desta semana sintetiza as mais recentes vitórias da luta contra o terrorismo do actual governo de Israel:
«Palestinian hardliners are gaining ground: Islamists from Hamas and Islamic Jihad recently won an absolute majority in elections for the student council at the West Bank's Birzeit University, once a bastion of Palestinian secular nationalism. Similar Islamist coalitions now control most of the Palestinian universities, together with influential professional bodies such as the Engineers' Association in Gaza. This bolsters the findings of most pollsters: that if there were a freely contested general election in the PA, Hamas would not only reach parity with Fatah in most areas but, in some, such as Gaza, Hebron and Nablus, it might well eclipse its rival

Só uma coisinha (e pode não ser a última)

Esclarecimento ao Contra-a-Corrente:
Não sou eu que acho que as acusações eram vagas e havia falta de provas. Foram sucessivos acórdãos do Tribunal da Relação e mesmo do Tribunal Constitucional.
Aliás, foram esses acórdãos que obrigaram a repetição de audições e, inclusivamente, à libertação de presos preventivos.
Mas, se o meu caro MacGuffin, tiver paciência e alguma calma, o Liberdade de Expressão fará, nas próximas horas, um post, tudo numeradinho, em que vai demonstrar que isto não é nada assim...
Post scriptum: essa coisa de prometer que «é a última» é que eu acho mal. Até porque o Expresso só sai amanhã...

Fora dos Carris

Soube hoje pelo Classe Média que a Carris não tem, nem nunca teve, a carreira 69.
Basta, porém, consultar o site da empresa para percebermos que não tem problemas em fazer circular autocarros da carreira 13.
Há aqui um double standard que interessaria debater.

As ilhas tão longe

O Liberdade de Expressão não tem mesmo emenda. Agora pôs-se a comparar o caso de pedofilia dos Açores com o do Continente. Esquece-se dos pormenores: o meio em que a coisa ocorre, o facto de a coisa ocorrer depois da coisa cá de Lisboa, o que implica experiência adquirida... Mesmo uma leitura superficial das notícias que nos chegam das ilhas dá para perceber que, por exemplo, os arguidos são confrontados com provas (repito, provas) e testemunhos bem mais esclarecedores (fruto de meses de serena investigação...), nada que se compare com as acusações vagas cá do burgo. Só isso fará toda a diferença.

Post contra-revolucionário causado por evidentes más influências

A RTP 1, paga por todos nós, acaba de anunciar um programa especial sobre Ary dos Santos, esse grande comuna. Há dias, no Rádio Club Português (ex-Nostalgia) passaram José Afonso.
E anda para aí tanta gente a querer tirar o marxismo da Constituição. Comecem pelos media, comecem pelos media!

quinta-feira, 15 de janeiro de 2004

Eu não dizia?

Tem toda a razão o Contra-a-Corrente. O último disco do Ryan Adams é uma bela merda, que me desculpe esta minha linguagem de esquerda.
Mas não deve desistir à primeira. O Heartbreaker é muito bom. E o Gold também não é mau, com a vantagem de ter a bandeira americana na capa.

Na Lua, mas com os pés na Terra

Um dos sinais do nosso provincianismo é acharmos que, por cá, nos entretemos na maledicência, no escárnio, na simples crítica, enquanto outros países, mais inteligentes, mais preparados, mais avançados, conseguem distinguir o trigo do joio.
Por exemplo: nós, portuguesinhos, temos de levar muito sério as promessas grandiloquentes do senhor Bush sobre a exploração espacial. Sim, porque aquilo é coisa séria, não podemos pôr-nos a criticar assim, levianamente, coisa tão determinante para a Humanidade.
Bullshit. Basta ver a imprensa americaca. O editorial do LA Times [exige registo, mas é grátis], por exemplo - ok, Bush quer ir a Marte, mas com que dinheiro, se o défice que ele próprio criou deixa a América em apuros económicos para o próximo meio século?
Ou, por exemplo, a edição da Economist [ignoro se o link só funciona para anunciantes, sorry...] que hoje é posta à venda e que tem um dossier intitulado A grand but costly vision, com o elucidativo subtítulo «Publicly financed space-exploration should be about science not political grandstanding.»
Pois é, podemos ir à Lua, a Marte até, talvez «ao infinito e mais além». Mas, por paradoxal que pareça, convém que tenhamos os pés na terra.

(Nem tanto) contra a corrente

Fosse o mundo a preto e branco e eu não teria sombra de dúvida: escolheria a mais livre das liberdades de expressão.
Mas o mundo é multicolor, segundo os optimistas, ou em várias tonalidades de cinzento, na óptica dos pessimistas. As escolhas tornam-se, pois, difíceis, complexas.
Vem isto a propósito de uma suave polémica que mantive esta semana com o Contra a Corrente.
No essencial, parece-me, estamos de acordo. Com as duas ou três divergências que dão sal a estas coisas.
Por exemplo, eu detesto as declarações maximalistas, do tipo «ai, sem a liberdade de imprensa o que seria de nós?» Porque, no caso em apreço (a Casa Pia), os media e a justiça parecem disputar um qualquer pódio do disparate. É por isso que defendo princípios de responsabilidade (responsabilização, se quiserem) porque percebo que, sem eles, é a nossa própria liberdade e estilo de vida que são postos em causa. Porque, sem esses princípios, é o vale-tudo. Na minha vida do dia-a-dia, nas pequenas e grandes coisas, na própria liberdade de imprensa, eu já tenho limitações. Não me escandaliza, por isso, que se debata abertamente o tema. Não há vacas sagradas.
Outra coisa que me separa do MacGuffin é... bom... fiquemos por aqui. Não quero que ele diga que estou obcecado com ódios de estimação.

E gostam?

O Diário de Notícias e o Público de hoje divulgam dois estudos universitários sobre as relações (hesito entre chamar-lhes sexuais ou amorosas...) entre adolescentes.
Parece-me que há aqui uma data de equívocos, a merecerem abordagem mais séria e completa. Deixo apenas duas ou três pistas.
Num dos estudos, conclui-se que 27 por cento das estudantes universitárias dizem ter tido «relações sexuais forçadas». Sublinho o «dizem ter tido», noto que a categoria em apreço chega a incluir «beijos e carícias» e registo que a coacção sexual mais frequente é o «uso de argumentos verbais contínuos» e não qualquer acto físico. Infelizmente, ficamos sem saber qual a percentagem dessas «relações forçadas» ocorreu durante as chamadas queimas das fitas e ocasiões similares.
No outro estudo, diz-se que os rapazes usam mais a violência física na relação e que as raparigas optam pela violência verbal. Na primeira categoria, regista-se, por exemplo, «o empurrão». Diz a psicóloga que fez o estudo que os adolescentes, neste caso pré-universitários, têm dificuldade em lidar com o conflito, como se isso não fosse uma das características da idade.
Estes estudos terão dados que devem ser levados a sério, registarão tendências preocupantes. Mas também me parece que há por aqui preconceito qb e disparate em barda. Acho que é tema a merecer uma troca de ideias.

Esclarecimento

Quero esclarecer que acho aquela coisa de regressar à Lua uma coisa linda. De Marte nem se fala. Só mandei umas bocas anti-bushistas para dar razão ao Liberdade de Expressão. Que diabo, também tem direito a ter razão uma vez por outra.

Pintelhos com cheiro a pescada

Dei por eles porque se meteram comigo. As coisas são mesmo assim. São o Posts de Pescada e o Diário de um Pintelho. Vale a pena espreitar.

Chove e pronto

Chove copiosamente e uma multidão de carros, carrinhos e carrões ameaça tomar conta da cidade. Se quiserem saber mais, vão aos sítios do costume. Tenho mais que fazer.

A(lua)do

Com Kennedy, a Lua era um sonho. Num tempo em que o sonho comandava a vida.
Com Bush, a Lua não me interessa. Porque deste tempo Bush fez um pesadelo.

E à noite, como é?

À noite, na cidade, quase não há céu. Quando as nuvens são castelos, há nuvens. No resto dos dias, há só céu. A Lua lá anda, brincando às curas de emagrecimento numas semanas, vingando-se nas outras. A Lua é uma brincalhona, esconde-se, disfarça-se. Que é isso comparado com toda aquela força, ameaçadora, reconfortante, do Sol? Que seria, de resto, da Lua sem o Sol?

quarta-feira, 14 de janeiro de 2004

Crepúsculo

Passa das cinco e deixou de chover. Durante alguns momentos, houve uma claridade muito clara, filtrada por nuvens difusas, quase neblina.
Agora já é quase crepúsculo.
É Inverno,evidentemente Inverno.
Tantos dias nos nossos dias.

4'33''

Nos próximos 4 minutos e 33 segundos, vai acontecer História com H grande em Terras do Nunca. Vamos retransmitir, por gentileza da BBC, a estreia mundial da mais famosa obra de John Cage.
Numa homenagem ao título deste blogue, a composição 4'33'' passará, de resto, a ser a música oficial de Terras do Nunca.

Chove

Um pingo. Depois outro e ainda outro a seguir. Em poucos minutos, a janela enlameada do Volvo amarelo, da Carris, foi-se enchendo de sulcos.
Chove serenamente. Por momentos, o Sol ainda persistiu em deixar alguns reflexos nos automóveis da outra faixa. Foi Sol de pouca dura. Por este andar, é noite antes das cinco.

David Justino (epílogo provisório)

Deveria David Justino demitir-se?
Vejam bem, existem razões objectivas para isso. Sendo membro do Governo, omitiu rendimentos às Finanças, numa altura em que a evasão fiscal está no topo da agenda do Governo. Isso bastaria.
Porém, nisto das demissões pesam também as razões subjectivos. Certas condições mediáticas - acerca das quais tentei teorizar noutra encarnação - são, por vezes, determinantes. O modo como a notícia surge, o primeiro impacto, a reacção do próprio, a reacção da oposição, a agenda política, etc.
Há dois exemplos curiosos a este propósito. Paulo Portas e a Moderna - é certo que o líder do PP nem sequer foi constituído arguido, mas a verdade é, do ponto de vista político, a sua posição era francamente insustentável. Sobreviveu, porque decidiu sobreviver, ficar indiferente à onda mediática. O outro caso é o de Armando Vara e da famosa fundação - também ele decidiu resistir e foi preciso Sampaio mostrar a Guterres os custos políticos daquela resistência.
Como se vê, nisto das demissões não há propriamente um critério, uma tabela de actuação. Mas as consequências das decisões nem sempre são as esperadas, nem sempre são visíveis no curto prazo.

Notícias da frente de batalha

As nuvens decidiram disseminar-se, ocupando agora todos os flancos. Não sei se terá sido boa ideia. O Sol aproveita para furar aqui, furar ali. A luz é, por isso, filtrada, incomodativa. O frio, esse não sei de que lado está. Mas que está, está.

Incerteza

De um lado, o Sol levanta-se vagarosamente, como se lhe pesassem os anos. Do outro, castelos de nuvens negras evoluem com uma lentidão misto de segurança e instintos de traição. A vitória é incerta.

As virgens

De início, eram virgens. Como é natural. Algum dos senhores se arrepende de notícias publicadas nos vossos jornais sobre a Casa Pia? Nós, que horror, claro que não. Foi a resposta, a uma voz, dos directores dos jornais, na SIC Notícias.
Depois, a conversa foi andado, começaram a falar de tiragens, houve um que criticou o outro, outro que insinuou não sei o quê, meteram as mãos na massa...
Se, no fim, a mesma pergunta fosse feita - Algum dos senhores se arrepende de notícias publicadas nos vossos jornais sobre a Casa Pia? - seguramente todos responderiam: Eu não... mas aqui o meu vizinho...
As virgens são assim: efémeras.

David Justino (7.º andamento)

Consigo fazer duas ou três piadolas sobre o caso fiscal de David Justino. Consigo, até, encontrar-lhe duas ou três atenuantes.
Mas o caso é politico. E, politicamente, é muito grave. Dos esquecimentos às justificações. Passando pela questão ética sublinhada pelo Bloguítica.

terça-feira, 13 de janeiro de 2004

David Justino (6.º andamento)

David Justino é simpático, afável. Tem imagem de competente, sério.

David Justino (5.º andamento)

David Justino garante que se esqueceu. Qual a diferença entre a garantia de esquecimento e a palavra de honra?

David Justino (4.º andamento)

A verdade é que nutro pelos ministros da Educação uma admiração quase sem limites.
Vejam bem. Aquilo são camadas e camadas de directores-gerais, sub-directores regionais, coordenadores concelhias, todos rigorosamente seleccionados de acordo com rigorosos critérios partidários.
Aquilo são castas e castas de professores, uma profissão que deveria anda perto da devoção do sacerdócio, mas que acaba por acolher as muitas sobras de cursos e mais cursos.
Aquilo são gerações e gerações de estudantes. Que começam no básico a exigir eduação sexual e acabam na Universidade a fechar portas com cadeados.
Aquilo são milhões de pais, ainda mais desnorteados que todos os outros, culpabilizados por não participarem na vida da escola, culpabilizados por quase tudo, angustiados por estarem a falhar.
Aquilo são crostas e crostas de reformas e contra-reformas, num gigantesco labirinto, símbolo de um Portugal sem rumo.
Aquilo....

David Justino (3.º andamento)

Oeiras, em tempos um templo do poder local, está hoje transformada num alfobre de escândalos. Uma fábrica de pólvora. Na política, como na vida, mau é quando o verniz começa a estalar.

David Justino (2.º andamento)

E Manuela Ferreira Leite? Terá ela equivalente capacidade de perdoar?

David Justino (1.º andamento)

Quando soube dos esquecimentos fiscais do ministro David Justino não consegui disfarçar uma certa admiração. A faculdade do esquecimento é um dos aspectos mais maravilhosos da natureza humana.

Beco sem saída

Ao Almocreve das Petas deu-lhe para a toponímia. E não se ficou pela Avenida do Alberto-a-Dias (embora tenha, inexplicavelmente, esquecido a Marginal João Pereira Coutinho). Não. Avançou pelo laranjal dentro, revelando locais paradisíacos que a mais recente tendência urbano-depressiva dos portugueses conspurcou com designações de (futura) má memória (Quinta Celeste Cardona; Residencial Tavares Moreira; Arco Ferreira Leite; Chalé Portas....). O Almocreve, na sua imensa bondade, temina com reticências, poupando a maralha à derradeira e dolorosa verdade: estamos, todos, no Beco sem Saída da Pátria.

Ao que as meias tintas nos levam. Caso prático: o aborto

Esta nossa mania das meias tintas leva-nos à desgraça. Nunca levamos nada até ao fim, nunca levamos nada a sério.
Veja-se o caso do referendo sobre o aborto.
O legislador, revelando bom senso, teve o cuidado de estipular que os referendos só são válidos se neles votarem mais de metade dos dos eleitores. Ora, no referendo sobre o aborto isso não aconteceu, pelo que o referendo não foi válido. Quer isto dizer que, à luz da lei, da Constituição, esse referendo, melhor, o resultado desse referendo, não existiu, não existe.
Numa democracia madura, o mais normal é que, perante uma questão que claramente divide o país, ao ponto de haver necessidade de fazer um referendo, tudo se fizesse para criar as condições que levassem à realização de nova consulta. É assim nas assembleias gerais, no parlamento, nas mais banais da reuniões - se não houve quorom, vota-se novamente.
Ora o que fizeram os políticos? Exactamente o contrário: assumiram que aquele referendo inválido tinha sido, afinal, válido. Isto é um absurdo gerador das maiores confusões. Acabamos todos num labirinto argumentativo (oh, como gostamos desta balbúrdia de debate), quando a questão era tão simples: bastava cumprir a lei.
[É claro que, ao escrever isto, estou, aparentemente, a alinhar por um dos lados em contenda, no que respeita ao aborto propriamente dito. Mas não é verdade. Essa é outra questão.]

A liberdade de imprensa (II)

A legislação que enquadra o sistema mediático português não difere muito da que existe no resto da Europa. Se alguma diferença existe é que a nossa talvez seja das mais detalhadas, o que, em princípio, até deve ser uma vantagem - todos conhecem melhor aquilo com que contam
E mesmo no que respeita ao tratamento dos temas de justiça, os jornalistas portugueses já têm o caminho suficientemente balizado.
Não se vislumbra como poderão ser mudadas essas leis de forma a limitar mais a liberdade de imprensa. Aumentando as sanções? Mais isso nada resolve. As sanções já existem, só que o sistema não funciona. O sistema judicial, entenda-se.
Não deixa de ser curioso que o sistema de justiça não consiga lidar - leia-se, pôr termo - às quebras do segredo. Porque, na verdade, o próprio sistema também vive dessas fugas, como se tem visto à saciedade do processo Casa Pia.

A liberdade de imprensa (I)

Portugal não tem um problema de liberdade de imprensa.
Portugal tem é um problema de incompetência, ou falta de profissionalismo, se quiserem. Que não é exclusivo da imprensa.
Nas muitas vezes que já aqui escrevi sobre a Casa Pia (mais do que gostaria...) salientei que as instrumentalizações do processo (chamemos-lhe cabalas, ou não, é indiferente) têm um carácter organizado e contam, à partida, com um caldo mediático em que predominam a concorrência sem rédeas e a mais irresponsável das incompetências.
As redacções portuguesas são, verdadeiramente, amadoras. Contam-se pelos dedos de uma mão de um amputado os especialistas em temas de justiça, como se contam por mão idêntica os especialistas em muitas outras matérias. Geralmente, escreve-se o que interessa a alguém que se escreva. Os mais honestos ainda pensam com os seus botões: «Deixa lá, amanhã telefona a parte contrária e isto equilibra-se...» Os outros nem se apercebem do que fazem.
Isto é o dia a dia. E só não se nota muito porque as notícias não são escrutinadas como estão a ser todas as relativas à Casa Pia.
Mas na justiça passa-se o mesmo. E na política, idem. A incompetência do sistema judicial ombreia com a do mediático. E também só não se nota muito porque a maioria dos processos não são mediáticos.

Caro MacGuffin

Oh homem, você veja lá se se decide.
Se quer que desça sobre o processo Casa Pia «o véu de serenidade, equilíbrio, moderação» que entrevê nos escritos de Pacheco Pereira e do seu amigo Alberto Gonçalves, ou se prefere toda aquela desenfreada liberdade de imprensa defendida pelo seu amigo João Pereira Coutinho.
[Oops, I did it again... já vou no quarto texto a falar do meu «ódio de estimação»...]
Parece-me, parece-me apenas, que estamos perante apelos de polo oposto.
Já agora, meu caro, deixe lá o poeta Alegre em paz (essa mania de darmos excessiva importância aos nossos ódios...), que quem falou no Parlamento em limitar a liberdade de imprensa foi a deputada Assunção Esteves. E a ministra Celeste Cardona.

O sentido das coisas

Alberto João Jardim lá desempenhou o papel do costume na mais que batida farsa. Pedofilia da Madeira? Isso é campanha de comunistas e jornalistas em vésperas de eleições. Pelo meio, ainda se auto-apelidou de puta velha. A graça de tudo isto é que em fundo, oscilando entre uma falsa passividade e um meio-esgar, assomava Bagão Félix. Por vezes, as coisas escusavam de fazer assim tanto sentido.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2004

Volto já!

O Outro-eu só consegue escrever nos comentários do seu próprio blogue porque perdeu a senha. O Adufe só consegue editar textos velhos, não tem autorização para escrever nada de novo. O Technorati está em baixo há seis dias. Há umas horas que não consigo ler nenhum dos blogues alojados no Blogspot. Se estiver alguém desse lado... é só pra dizer que já volto.

Horizonte sem fios

As gralhas. O que seria dos jornais sem as gralhas? Não apenas a suave trcoa de letras, mas o erro mais grusseiro.
Um dos destes dias, o Diário de Notícias publicava um artigo de opinião, com foto e tudo, de Manuel José Homem de Melo, mas atribuía-lhe uma autoria diferente: José Manuel Homem de Melo. Tanto bastou para que todas, vejam lá bem, todas, as referências que surgiram naquelas colunas de citações dos jornais repetissem o erro.
Hoje, na edição on-line do Público, quando são 9:27, a crónica de Eduardo Prado Coelho é assinada por José Manuel Fernandes. Um erro de simpatia, presumo, causado pelo facto do texto fazer referências ao Bruno Mexia.

Luxúria. Usem... e abusem

A luxúria, que nos habituámos a registar na coluna dos pecados, ainda por cima mortais, está em vias de passar para o lado das virtudes.
É pelo menos essa a intenção do filósofo Simon Blackburn, segundo noticiava hoje o Sunday Times (como não tem link, há um resumo na BBC).
«He points out that thirst is not criticised although it can lead to drunkenness and in the same way lust should not be condemned just because it can get out of hand.»
Afinal, há sinais de algum bom senso neste perturbante início de milénio.

domingo, 11 de janeiro de 2004

Puta de vida

Tanto desencontro nesse mundo...
Não, não é poesia. É o Yahoo!, que atirou para aqui alguém, eventualmente ardendo na fogueira do ciúme, que teclou o seguinte às 01:29 de hoje no motor de busca: «aquela puta atira-se ao meu gajo na minha frente».

Bye bye Bibi, here I come Saddam

Agora estou para ver qual vai ser a resposta do Expresso... perdão do Inimigo Público.
O advogado do Bibi assegurou hoje ao Correio da Manhã que, sim senhor, vai mesmo ser advogado do Saddam.
E confessou a primeira dificuldade da equipa da defesa: «Nem sabemos onde é que o ex-presidente está detido».

Entretanto... em Amarante

E por falar em double standards...
Avelino Ferreira Torres, à espera de julgamento em Marco de Canavezes, esteve em Amarante a distribuir guarda-chuvas e cassetes com um hino da sua pré-candidatura à câmara local.
Só não percebo porque escolheu ele Amarante e não... Felgueiras.

Pedofilia (duas ou três memórias)

Há umas semanas, aplaudi uma indirecta de Mário Soares («Então e a Madeira?») quando se falava de pedofilia em Lisboa e nos Açores. Levei porrada de uns fulanos que acham que topam tudo à distância.
Há dias, registei umas bocas que Jardim andava a mandar sobre o sistema judicial português.
Hoje, o Público escreve que «Pedofilia Internacional Continua a Recrutar Crianças na Madeira.»
É pena que quem anda a escrever sobre cabalas e contracabalas e sobre as pressões políticas no processo Casa Pia não perca um minuto a tentar perceber porque merece a Madeira um tratamento tão distinto.
E, já agora, as vozes pias e indignadas que se atiram à podridão desta República, referindo-se exclusivamente à classe política lisboeta, poderiam, talvez, ir passar um fim-de-semana ao Funchal para conhecer o António.
Estou a ser demagógico? Pois é...

sábado, 10 de janeiro de 2004

Ainda o Coutinho (desculpem a insistência...)

O texto «Cala-te boca», inserto hoje no Expresso, é um filho exemplar do Coutinho.
Bem escrito, é certo. Mas não exageremos.
E o conteúdo? Enumeremos os dislates:
1. As habituais incorrecções factuais: é preciso distorcer a realidade para que ela se adapte ao que pretendemos escrever. Exemplo: Manuel Alegre não defendeu uma reunião do Conselho de Estado para tratar apenas da cobertura mediática do processo Casa Pia, mas sim de todo o processo. Infelizmente, ao lado do Coutinho, no Expresso, o próprio Alegre encarrega-se de repôr a verdade.
2. Mais explícita sobre a questão da liberdade de imprensa, no Parlamento, foi Assunção Esteves. Mas é do PSD, não dá jeito criticá-la. Além disso, não se presta a tiradas do estilo «a única figura dramática desta República cómica». Acima de tudo, a maledicência deve ser praticada exclusivamente sobre os nossos ódios de estimação.
3. O Coutinho desata depois a elogiar a imprensa. E cega.
Diz que a pedofilia na Casa Pia alastrou durante três décadas perante o silêncio da justiça e dos políticos. Esquece-se de acrescentar: «e dos media». A única reportagem foi feita pelo Tal e Qual, há 20 anos, e ninguém se deu ao trabalho de a continuar.
E diz depois que teve de ser a «terrível imprensa» a confrontar o país com «o fedor». É mentira. O processo Casa Pia começou com uma denúncia (a mãe do famoso Joel) e não com qualquer texto de jornal. O que os media fizeram foi acrescentar fedor ao fedor inicial.
Tudo isto diz o Coutinho porque querem «calar os jornais». Onde terá ele ouvido tal coisa?
Do que muito gente falou foi da necessidade urgente de conjugar a liberdade de imprensa com a responsabilidade. A liberdade, seja ela de imprensa ou de qualquer outra coisa, exige responsabilidade. É assim nos países civilizados de que o Coutinho às vezes diz que gosta.
Mas, enfim, isto é o que eu penso, eventualmente imbuído de uma valentíssima tendência para o equilíbrio sensaborão.

«A verdadeira história do advogado de Saddam»

Eu sei que vocês (a maioria, pelo menos) não lêem o JN. Sei lá, não é chique, como o Independente, o Público, ou mesmo a Spectator.
Mas, como não quero que percam as coisas interessantes da vida, e prosseguindo a missão de serviço público a que o TdN meteu ombros, vou contar-vos o que vem hoje na última do JN.
Lembram-se daquela notícia do Expresso sobre a contratação do advogado do Bibi pelo Saddam? E lembram-se de que, oh coincidência!, isso tinha sido manchete no Inimigo Público?
Pois conta hoje o JN que a notícia do Expresso não é nada mais que consequência da brincadeira de um grupo de advogados inspirados pelo Inimigo Público.
Eu, se fosse juiz de instrução, pelo sim pelo não, mandava anexar tudo isto ao processo...

Pouco Coutinho e muito «smog»

O Estrangeirado de Londres gosta do João Pereira Coutinho. Ao ponto de terçar armas com os «invejosos» que pensam o contrário.
Felizmente, esta conversa não é comigo, apesar de não gostar do tal Coutinho.
É que, diz o Estrangeirado de Londres, os que o criticam «não gostam que o tipo seja bom e não gostam que o tipo seja de direita».
Ora eu acho que o tipo não é bom, pelo que até me dá muito gosto que seja de direita.

Dark side of the Moon (and Mars, also)

George W. Bush mandou regressar os inspectores da CIA que procuravam armas de destruição maciça no Iraque e anuncia que quer mandar o(s) homen(s) à Lua e a Marte.

O banco do milénio

O Cataláxia lamenta que o BCP se tenha transformado em Millennium (ena, tantas consoantes dobradas, que chique...). Junto-me à sua tristeza por um símbolo que desaparece. Além do mais, a nova designação parece-me demasiado banal e o lettering um bocado feio.
O Cataláxia faz ainda uma série de elogios ao papel que o BCP teve na banca portuguesa, os quais subscrevo na íntegra.
Só tenho algumas dúvidas quando escreve: «O Banco Comercial Português fez mais pela democracia e pela liberdade de Portugal do que qualquer partido ou político de então.» E isto porque se o BCP não tivesse sido muito acarinhado (para usar um eufemismo...) pelo Bloco Central da altura (personificado por Cavaco e Soares) tenho muitas dúvidas de que tivesse chegado ao milénio... ou pelo menos que lá tivesse chegado nas condições em que chegou.

Porque berra tanto Jardim?

Nos últimos dois/três dias, o Jardim multiplicou-se em bocas idiotas e bombásticas contra a justiça, a propósito dos casos de pedofilia no Contenente e Açores.
Como quem diz: atrevam-se a pôr um pé na Madeira e logo vêem como elas mordem...

sexta-feira, 9 de janeiro de 2004

Táxi, táxi...

Sobre a novela escandalosa do perdão fiscal aos taxistas, divido-me entre a ironia do Adufe e a dureza do Apenas um pouco tarde.

O Coutinho

João Pereira Coutinho é uma versão portuguesa do Diogo Mainardi. Embora não se saiba quem nasceu primeiro: se o ovo, se a galinha.
O homem é todo ele cheio de certezas definitivas [sobre isto, vale a pena ler o que escreve JPH, no Glória Fácil]. Impiedoso, o homem não critica, destrói. Ai de quem ele não goste. O homem funciona a preto e branco: há ele e as suas taras (dois ou três autores, uma mão cheia de amigos, pouco mais) e há o resto, que é tudo muito mau.
Mas o homem pouco interessa. O pior são os estragos.
O homem ofendeu-se quando o colocaram no sítio, na extrema-direita. O homem suporta lá a crítica, quanto mais a certeira. E, vai daí, amua. E promete voltar.
Foi o suficiente para que a corte de seguidores colocasse na coluna dos links o seu famoso site. Semanas e semanas nos links... e nada. Até que o homem lá escreveu umas larachas e o povo... uaaahh... embasbacado, aplaudiu. Sobre o que escrevia o homem? Não se sabe, o pessoal queria era aplaudir. Tudo o que ele dissesse seria genial. É sempre genial. Melhor que ele só o MEC, mas está reformado.
Agora o homem deixa esse megablogue que se chama Independente e vai para o execrável jornal do regime. Sim, o Expresso.
E agora?, pergunto eu. Como vão ficar as centenas (não exageremos, o fenómeno é limitado...) de admiradores que se revêem em tudo o que ele escreve e que, por isso, foram educados a odiar o Expresso? Como vão eles sair hoje à rua? Em Évora, por exemplo?

Vital blog

Já escrevia os melhores post-scriptum (desculpem não escrever no plural, mas não sei latim...) da imprensa portuguesa. Uma espécie de posts pré-blogues.
Agora, Vital Moreira tomou literalmente conta do Causa Nossa, tal é a assiduidade dos seus escritos. A qualidade e a profundidade das suas análises não espantam, pois vêm na linha do que lhe conhecemos, mas não deixa de ser curioso que uma pessoa com uma imagem mediática relativamente pesada, pouco atraente, se tenha adaptado tão bem a este mundo de leveza e efemeridade que são os blogues.
E o Causa Nossa tem outros motivos de interesse - os textos, infelizmente raros, da minha política favorita no activo e as também escassas intervenções de um dos melhores jornalistas do burgo que a política roubou (e onde nem sequer acrescenta muito, nem se sente à vontade...)

Vai uma volta ao mundo?

Estive hoje a ver o novo Magazine, com Anabela Mota Ribeiro, na 2:
E não pude deixar de pensar: que bela volta ao mundo se dava com o dinheirinho metido ali...

quinta-feira, 8 de janeiro de 2004

O penteado de Zé Manel

Estou a ver o nosso primeiro-ministro na televisão.
Tenho um comentário a fazer: não sei se aquele penteado será o mais correcto. Corrijo: não sei se o eleitorado dele gostará daquele penteado.
[Actualização: o Zé Manel já citou duas conversas privadas com Bill Clinton e disse que, se vivesse nos EUA, votava ao centro (Democrata?). Rectifico, portanto: o penteado está certo, o resto é que não condiz.]

Indignações selectivas

Meio mundo político e mediático anda preocupado porque os media divulgaram duas matérias completamente laterais no processo Casa Pia: as cartas anónimas envolvendo o Presidente; as fotos do cardeal e de políticos.
Esse meio mundo teoriza agora sobre novas cabalas. Dá-lhes outros nomes, mas é de cabalas que fala.
Esse meio mundo nada teorizou quando foram divulgadas as escutas telefónicas. Nada teorizou porque, nessa altura, teria de teorizar sobre cabalas de sinal contrário. Temos, pois, teorizadores muito selectivos.
Mas esse meio mundo também nada disse quando, por exemplo, os media divulgaram os cortes no pénis de Carlos Cruz. Não, aí, a violação do segredo de justiça não os incomodou.
Porque esse meio mundo dos teorizadores, muito preocupado com os poderosos que estarão agora por detrás das fugas de informação, está muito pouco preocupado com a justiça ou o funcionamento do sistema mediático. Esse meio mundo está apenas interessado em proteger politicamente o seu meio campo. Por isso tem de ser selectivo nas indignações.

Prá troca

Afinal, o album de suspeitos da Casa Pia tinha outros figurões. Alguns desses cromos podem ser trocados no Al Vino. Bão lá ber.

Só agora?

É engraçado. Os deputados da Nação apenas se indignaram com o processo Casa Pia no dia em que saiu a notícia mais idiota e verdadeiramente inofensiva de toda esta história. Diz que os investigadores colocaram no dossier de suspeitos o cardeal, um ex-Presidente e o presidente da AR. Pelo que conhecemos do resto do processo, desse caderninho de cromos também devem fazer parte o Capuchinho Vermelho, talvez na pele de lobo, talvez na cama com a avó, o vilão do Harry Potter e... tanan... o Saddam em pessoa.
Ora o processo e as peripécias que o rodeiam têm sido uma palhaçada desde o início. E desde o início que certa classe política (leia-se, a maioria parlamentar) preferiu ficar na bancada a assistir.
E viram tudo. Viram um juiz ir buscar um deputado ao Parlamento com uma câmara de televisão atrás!!! Viram escutas telefónicas feitas a um dos líderes da oposição escarrapachadas nos jornais, devidamente truncadas e publicadas em dias seleccionados!!! Viram insinuações de que o Presidente da República oferecia almoços ao procurador-geral para interceder pelos seus amigos!!!
Tudo isto e muito mais os senhores políticos viram em absoluto silêncio. Sem perceberem, sequer, que tudo isto os visava mais a eles do que aos eventuais arguidos.
E vêm agora pedir regras de conduta à comunicação social? Vêm agora falar em «campanhas orquestradas» e nos «poderosos» que as fazem? Agora? Só agora?

quarta-feira, 7 de janeiro de 2004

Direita esquerda, volver

Tenho recebido um número considerável de reclamações acerca da «teoria política esquizóide» que relaciona a inactividade dos blogues de direita com as férias natalícias.
Peço desculpas pelos danos eventualmente causados.
Quero desde já esclarecer que não estou disponível para custear eventuais recursos a clínicas de psicanálise, escritórios de advogados especializados em divórcios litigiosos ou, eventualmente, cursos por correspondência de ciência política.
Noto, aliás, alguma incoerência na argumentação que por aí anda. Mesmo naqueles que, bem vistas as coisas, até concordam comigo. Como é o caso do Contra a Corrente. Após dar a entender que os blogues de direita não blogaram nas férias porque tiveram mais que fazer, espeta-nos com um valente balanço de 2003... que só pode ter sido escrito nas férias.
Fica, assim, claro que a direita também tem terceira via. Fuma, mas não inala. No caso, escreve, mas não bloga.
Ressalve-se que um eventual litígio com o Contra a Corrente terá sempre de ter em conta a atenuante de me ter apresentado a inebriante Scarlett Johansson.

terça-feira, 6 de janeiro de 2004

Lambendo calhaus

Nas próximas 9 horas e 5 minutos, agradeço que não me interrompam. Estou de volta do DVD quádruplo dos Rolling Stones Four Flicks. Trabalho duro...

Technorati? Who? Me?

Então não é que o David Sifry, «founder and CEO of Technorati», me colocou nos links da página dele?
Ora toma...

Fujam... vêm aí os americanos

«It was a good day on Mars», exclamou o boss da missão americana que está a colher fotos em Marte.
Primeiro comentário da Casa Branca: «Os marcianos acolheram-nos de braços abertos e com flores, tal e qual como no Iraque».

Blowin in the Wind (VI)

A boca pr'a calar
a boca pr'a dizer
um novo dia
a porta pr'a sair.
Xana/Flak (Rádio Macau) 2003.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2004

A 2

O novo segundo canal começou com um documentário de dez minutos sobre a obra de espírito e a transfiguração física do ministro Morais Sarmento. Promete!

E a droga é dextra ou canhota? (oh não, etc etc...)

O Adufe, após ter escrito (!?) um post completamente em branco (eventualmente, uma singela auto-homenagem...) pergunta a este modesto professor doutor das mais extraordinárias ciências políticas: «I don’t dig drugs. Am I right or am I left?»
Olha, Rui, eu nessas coisas aconselho-te a terceira via, versão Clinton - fumava mas não inalava.

No top dos mais interessantes

Adivinhem qual é o blogue que se encontra em 20.º lugar, a nível mundial, do top dos 50 blogues mais interessantes do Technorati...
Agora só me falta entender o critério de elaboração da lista. Para já, só percebi que, o mais certo, é amanhã já lá não estar...

Esquerda/direita (oh não... lá vem o gajo outra vez!)

Os blogues de esquerda têm sistema de comentários e os de direita não.
Ora aí está uma afirmação que não compreendo. Duplamente: parece-me que a estatística não o prova; e não vejo o que têm a esquerda e a direita com os comentários.
Se quiserem mais um pouco de teoria política esquizóide, aí vai: os blogues de direita fizeram (longas) férias de Natal e Ano Novo, os blogues de esquerda mantiveram-se activos. Alguém discorda?

Epidemias e guerras sobre rodas

Na SIC Notícias informaram que, em todo o mundo, morrem diariamente três mil pessoas em acidentes de viação. E que uma organização qualquer (OMS?) considerava esse facto uma «epidemia escondida».
Em Portugal, vulgarizou-se tratar os acidentes rodoviários como uma espécie de «guerra civil». O que já deu origem a disparates do estilo de comparar o número de mortos nas estradas portuguesas com os da guerra do Iraque. E o que levou o governo a uma campanha com o slogan idiota de «Paz na estrada» (quem pensou aquilo não leu em voz alta?) e com um ícone não menos idiota que resulta da fusão de um volante com o símbolo dos hippies.
Acho toda esta linguagem um exagero.
Os acidentes na estrada (como noutro local qualquer) são inevitáveis. Isto não nos deve impedir, obviamente, de tudo fazer para os limitar. E são meritórias as campanhas desenvolvidas pelo Estado e da chamada «sociedade civil».
Mas a utilização de expressões como «guerra civil» e «epidemia» - embora possam ser interessantes instrumentos de marketing a curto prazo - não conduz a uma banalização e a uma equalização sem sentido?
[Este texto acaba de ser editado, após ter sido detectado um inexplicável (?) erro de português.]

Blowin in the Wind (V)

You can't believe what you read in the papers
Or half the news that's on TV.
Van Morrison, 2003.

Admirável mundo moderno

Estava à procura de um espectáculo que vai ocorrer na Culturgest um destes dias [ok... é a Jane Birkin, que traz a Portugal o tal «Arabesque», de que falei há uns tempos a propósito de uma apresentação em Israel e na Palestina].
Mas, no site da Culturgest, hoje dia 5 de Janeiro de 2004, apenas encontrei o programa para o último trimestre de 2003, cujo último espectáculo foi em 19 de Dezembro.
Bom... vou tentar na Torre do Tombo.
[Actualização - uma simples busca no Google deu-me a resposta: Birkin vem a Lisboa dias 23 e 24 de Janeiro.]

domingo, 4 de janeiro de 2004

Horas de Marte

Se outros motivos não houvesse [e há: vejam a brincadeira com a criação de cartas anónimas no Blogger...], valeria a pena dar um salto ao Icosaedro para ver aqueles postais que a sonda Spirit está a enviar para casa.

Lost in Space (ii)

Percebi pelo Adufe (que linka para aqui) que a blogosfera nacional foi atacada por uma espécie de vírus chamado Netcabo. Que, por acaso, tem um serviço bastante caro [no meu caso, há a juntar a linha fixa da PT, a móvel da TMN, a TV Cabo, incluindo Lusomundos e Disney - e não sei se me esqueci de alguma coisa]. Mas, enfim, deve ser mais uma das maravilhas do mercado livre, da concorrência e outras tretas.

Gasolina para a fogueira

O Liberdade de Expressão e o Causa Liberal exultam com a liberalização dos preços da gasolina.
Prevêem uma «maior eficiência equilibrada pela preferência dos consumidores» e garantem que «as empresas vão poder desenvolver estratégias mais adequadas às condições de mercado em cada zona geográfica e a cada tipo de cliente».
Eu, que acho que o Estado tem tarefas bem mais importantes a desempenhar que fixar preços de combustíveis, limito-me a:
1. Registar que a primeira coisa que as empresas fizeram após a liberalização foi aumentar os preços. Não notei que a esse aumento correspondesse qualquer serviço acrescido que determine a minha opção de compra.
2. Questionar em quê é que a fixação de preços impedia as empresas de prosseguirem os tais grandiosos objectivos. No sistema que estava em vigor, já muitas empresas tinham estratégias agressivas de preços, marketing e outras.
Quando critico as consequências da liberalização (e não a liberalização em si) o que critico é, sim, a falta de visão e a pequenez das empresas que apenas espreitam qualquer oportunidade para sacarem umas massas ao consumidor, em vez de espreitarem todas as oportunidades de melhor servirem o consumidor. Qualquer verdadeiro liberal concordará comigo.