quarta-feira, 30 de junho de 2004

Onda laranja?

Checo mate.

Onda laranja?

Já era.

T(r)etas sem estar registado

- Jotinha, amor, andas a fazer alguma coisa às escondidas?
- Não, amor. Porque perguntas?
- Aqui no Google diz que tu tens coisas sobre «tetas fotocopiadas» e «fotos de mulheres nuas sem ter que estar registado».

Cuidadinho?

E agora, no Pacto de Estabilidade, vale tudo - vender anéis, tirar olhos... O défice real não interessa, apenas o declarado.

O adeus

O que mais me impressinou na declaração com que Durão Barroso anunciou ao país TUDO o que o país já sabia, foi o tom baço, o conteúdo sem chama.

terça-feira, 29 de junho de 2004

Durão Barroso não fugiu?

1. Manuela Ferreira Leite já fez quase todos os truques que havia para fazer. O défice apresentado a Bruxelas é completamente irreal - nos próximos dois anos seria virtualmente impossível apresentar um défice dentro dos critérios de convergência. Porque nada de estrutural foi feito para equilibrar as contas do Estado.
2. As eleições para o Parlamento Europeu mostraram que a coligação subtrai, não soma. Mas romper a coligação teria, igualmente, consequências eleitorais incontroláveis. A prazo, o negócio eleitoral de ocasião com o PP valeria cada vez mais - porque o PP só faz sentido enquanto partido ligeiramente anti-sistema; e porque o PSD histórico sente-se permanentemente canibalizado pelo ímpeto ideológico do PP.
3. A remodelação - perdão «A» remodelação, a tal remodelação salvadora - é virtualmente impossível. A capacidade de atracção de gente de qualidade para a política - e, especificamente, para este governo - é baixíssima. As (poucas) substituições que já houve no Governo foram no sentido do emprobrecimento, não do fortalecimento, da equipa.
4. O ímpeto reformista - se o houve - esfumou-se. O PSD, como qualquer partido - mas o PSD por maioria de razão - tem uma enorme tendência para ficar preso das teias de interesses instaladas. Há vários meses que este Governo não punha cá fora uma medida de grande impacto - e as poucas que se disso de aproximavam acabavam em confusão, indecisão.
5. E, por último, há a sensação - que durante anos ouvi de socialistas e que agora ouvi de alguns sociais-democratas - de que o país não funciona, que o país não merece o esforço que por ele fazem. É um país sem horizontes, irrespirável.

Portugal fica a ganhar

Durão Barroso vai ganhar cinco vezes mais do que ganhava em Lisboa - acaba de noticiar a SIC.

Brasileirão

Não se esqueçam: todos de vermelho/verde contra os laranjas. Palavras de Scolari. Antecipadas já!

The bright side

No Mar Salgado, uma hilariante e certeira série de PC (sim, há um PC no Mar Salgado...):
ALWAYS LOOK ON THE BRIGHT SIDE OF LIFE.

Entupimos

Tenho estado com problemas no acesso a alguns blogues alojados no Blogger. Mandei um mail a perguntar o que se passava. Resposta:
We are currently experiencing some problems with some pages serving on Blogspot. Our engineers are actively working to resolve this problem which should be resolved shortly.
Entre as resmas de aniversários e a mobilização pró e anti-eleitoral, acho que entupimos isto.

The man in charge has got to go

Have you heard the news that's going round here
The man in charge has got to go
Cause he dances round the problem
And the problem is the man in the charge, you know


Por motivos que não vêm ao caso, tenho andado às voltas com o último disco de JJ Cale, «To Tulsa and Back». Um excelente disco de raíz blues, de um velhote cheio de garra. E há lá uma canção que fala de nós...

segunda-feira, 28 de junho de 2004

O coleccionador

Os blogues fervilham (abruptamente, o meu contador bate recordes... ah bruto).
Mas, serenamente, o Leonel continua a sua Memória Virtual, agora, em época de festa (parabéns...) rebaptizado com o nome original, aaanumberone. E o Leonel revela que, afinal, tinha um blogue secreto, o Da Vinci, um blogue que me intrigava, pelo rigor com que, um atrás de outro, ia abordando personalidades e temas, alheio à actualidade. O Leonel é um coleccionador. Paciente. Como já não há.

Cuba é uma prisão

[Imaginem que, na mais perfeita democracia do mundo, na democracia que quer ensinar os outros a viver em democracia, foi necessário que um tribunal superior dissesse isto:]
Imaginem que o mais democrático Governo do mundo - não o da América, mas o da América de Bush - teve de levar este raspanete de um tribunal:
The US Supreme Court has ruled that terror suspects held at Guantanamo Bay in Cuba can use the US legal system to challenge their detention.
[Rectificado, a negro, após ler o blasfemo João Miranda.]

Eles andam (tão) nervosos...

Escrevi hoje de manhã um curtíssimo texto sobre a transição de soberania no Iraque.
Eis o que escrevi e as reacções:
1. A coligação que invadiu o país entregou a soberania a um grupo de iraquianos - tão eleitos quanto o seu antecessor Saddam.
Reacção do Contra-a-Corrente: É TUDO A MESMA CORJA. Pois é: são todos iguais, não são? E ficou tudo na mesma ou pior, não ficou? E quem foi o culpado, quem foi?
Eu só disse que estes iraquianos foram tão eleitos como Saddam. Um dado objectivo. Não disse mais nada.
2. Teoricamente, hoje é um dia histórico para o Iraque. Para já, não há nada para comemorar.
Reacção de No Quinto dos Impérios: «Pela minha parte ficarei surpreendido se os iraquianos, aqueles que viveram sob o jugo de Saddam Hussein durante dezenas de anos, não vierem a celebrar esta data num futuro não muito distante». O «inefável JMF» (sou eu) «não só não celebrou a queda do regime sanguinário de Saddam como também não celebra um dos passos mais marcantes no penoso caminho da democratização do Iraque».
Ora o que escrevi é que «para já, não há nada para comemorar.» Mais objectivo que isto era impossível - hoje não houve festejos no Iraque. Aliás, segundo a rapaziada dos Infernos, as comemorações serão «num futuro não muito distante». Ou seja, não é «para já».
Mas que Diabo, perdão, que Inferno, nunca pensei que as más notas a Português no ensino privado em Portugal tivessem estas consequências...

Ponto da situação (à atenção do senhor Presidente)

A esta altura do campeonato, os serviços da Presidência da República já devem estar bloqueados com tanta informação. Como este é um blogue de serviço público, aí vai uma síntese do estado das coisas.

1. Contra a solução Santana: PS, PCP, BE e parte significativa do PSD.
2. A favor da solução Santana: PP e parte significativa do PSD.
Como vê, senhor Presidente, o problema está em medir a «parte significativa». Mas sempre lhe faço notar que, em termos de matemática parlamentar, a alínea 1. necessita de uma «parte significativa» bem menor. Talvez a parte nem necessite de ser significativa...

1. Eleições antecipadas sim - o país ficará mergulhado num período de três meses de instabilidade institucional. Esses três meses coincidem com o período em que uma elevada percentagem dos portugueses tencionam deslocar-se para a beira-mar, pelo que a instabilidade ficará ainda mais instável - é da areia. De qualquer forma, vista de fora, a instabilidade não se notará, pois outra percentagem elevada da população tenciona obedecer ao professor Marcelo e deixar a bandeira nacional à janela - será uma instabilidade patriótica.
2. Eleições antecipadas não - teremos governo, mas a tal parte significativa do PSD ficará descontente. O governo - a ser liderado por quem se fala - será naturalmente instável, instabilidade a que se deve acrescer a instabilidade do PSD, dentro e fora do Parlamento. Ou seja, talvez não tenhamos instabilidade no Verão, mas, no Outono... a instabilidade será o estado normal da Nação. E, nessa altura, até as bandeiras já estarão descoloridas.

Sinceramente, sr. Presidente, com toda a consideração, não sei onde está a dúvida.

Hot in the city

E agora, para descomprimir, uma citação daquela canção de Joe Cocker num filme com aquela rapariga loira. Não me lembro do nome... Só sei que a citação está completamente fora do contexto:
«You can leave your hat on... tã nã nã nã...»

SMS para o MacGuffin

Não, a crónica do VPV não era essa. Era a do dia seguinte - «Chega e sobra». Diz, por exemplo, que «O Presidente da República abre um precedente gravíssimo se deixar que a coligação se refaça sem eleições». O melhor é ler o resto... como de costume, o MacGuffin deve achar que estou a citar fora do contexto.

Iraque

Teoricamente, hoje é um dia histórico para o Iraque. A coligação que invadiu o país entregou a soberania a um grupo de iraquianos - tão eleitos quanto o seu antecessor Saddam.
Para já, não há nada para comemorar.

Obrigado (2)

Na maré de aniversários em que andamos todos (os blogues, os blogues...), há ainda uns agradecimentos a fazer, uns parabéns a dar e... uma má notícia.
A má notícia é o encerramento - espera-se que temporário - do Icosaedro. Um blogue que referi várias vezes, notável pela capacidade inventiva, de se recriar, de nos surpreender.
Os parabéns vão para o Retórica - um blogue estável (é um elogio, é um elogio...), quero dizer, com um estilo e uma linha editorial (!) de enorme coerência. Só se lamenta que seja tão pouco assíduo - ou talvez não, nestes tempos palavrosos, é bom saber que há quem meça bem as palavras que usa.
Os agradecimentos vão para o Mar Salgado (lamentando, a ausência de FNV) e para o Golpes de Vista (ressuscitado pela onda de comoção que abala o país).

O bom/mau exemplo italiano

O João Miranda não entende por que carga de água fui buscar a Itália. Se há coisa de que não gosto é que as pessoas fiquem mal esclarecidas.
A Itália surgiu a meio de uma discussão em que, a certa altura, estava em causa a famosa estabilidade-condição-essencial-para-o-desenvolvimento. Foi por isso que falei do G7 (G8, se quiserem - embora eu prefira G7...) - a Itália está entre os mais ricos, apesar da sua enorme instabilidade institucional. Ora, quando falamos de estabilidade/instabilidade, o conceito aplica-se, exclusivamente, ao poder executivo, aos governos. O poder legislativo terá influência nas políticas de médio/longo prazo - daí a sua má imagem nestes tempos de grande mediatismo -, mas as decisões que verdadeiramente contam, a gestão da coisa pública, compete aos governos.
Acresce que, durante muito tempo em Itália, parlamentos mais ou menos estáveis deram origem a governos de geometria muito variável. Uma virtualidade italiana que não parece ter paralelo em Portugal.

O essencial

Há um turbilhão de palavras/ideias à solta. Para que o essencial não se perca, repete-se, com sublinhados, o texto publicado sábado:

1. É claro que, se Durão Barroso tiver o convite e as condições para ser presidente da Comissão Europeia, deve aceitar. Não é razoável exigir de alguém que rejeite uma oportunidade destas. Portugal ganha alguma coisa com isso? Ganhará sempre, nem que seja apenas marginalmente, nem que seja apenas no marketing.
2. Durão tem um problema - romper o contrato que aceitou dos portugueses. Os contratos, como se sabe, podem ser rompidos, desde que se cumpram certas regras, que se expliquem as razões e, sobretudo, que haja boa-fé.
3. É claro que, se Durão Barroso se demitir de primeiro-ministro, o país deve ir para eleições antecipadas. A Constituição permite que isso não aconteça, mas a legitimidade política não se faz apenas da legitimidade que está na lei. Os portugueses votaram nele para primeiro-ministro - as eleições legislativas são altamente personalizadas. A pessoa e o projecto que foram escolhidos foram os de Durão Barroso, não do PSD. Remeto para a questão da boa-fé da alínea anterior.
4. Tendo em conta o trajecto presidencial de Jorge Sampaio, é de esperar que não haja eleições antecipadas. Sampaio fará mal e estará a contribuir decisivamente para a criação de uma situação política com todos os ingredientes para acabar mal, muito mal. Nesse sentido, a convocação de eleições antecipadas seria um acto patriótico (não devemos ter medo das palavras).
5. A oposição, a começar pelo PS, apenas pode exigir e manifestar-se disponível para eleições antecipadas. A oposição tem toda a legitimidade para fazer uma leitura política da situação, nomeadamente à luz do resultado das eleições europeias.

domingo, 27 de junho de 2004

A vigarice

"Have you ever had the feeling you've been cheated?"
Como parece que há gente que ainda não percebeu, que a língua não seja uma barreira. Aí vai a tradução:
«Já alguma vez tiveram a sensação de que foram vigarizados?»

Não percebi...

Se a Itália funciona, porque não há-de funcionar Portugal?
[E agora é a minha vez de fazer uma adenda: porque não transcreve o MacGuffin, na íntegra, a crónica de VPV no DN de hoje, como já fez noutras ocasiões?]

Comparações e umas coisas à pressa

O que o MacGuffin tem de bom é a capacidade de nos surpreender. Por exemplo:
«O Estado, em Itália, funciona mesmo
Presumo que esteja a referir-se:
a) ao papel da Mafia na lubrificação do aparelho do Estado;
b) à célebre «operação mãos limpas», que levou metade dos políticos para a cadeia e metade dos juízes para a política;
c) à «plantação» de oliveiras de plástico portáteis para obter subsídios de Bruxelas;
d) ao facto de a justiça não conseguir julgar Berlusconi pelo simples facto de Berlusconi ir mudando a lei ao sabor dos seus processos;
e) ao facto de o primeiro-ministro controlar pessoalmente, economicamente e politicamente a generalidade dos órgãos de informação.
Quanto a JPP, caro MacGuffin, o que é que ainda não percebeu? Olhe que ele até já fez um desenho e tudo [mas, enquanto não entende JPP, pode ir lendo o Aviz (Bom motivo, mau motivo), que tem a vantagem de não ser parte interessada].
E agora - um pouco à pressa que tenho de ir à manifestação (I'm joking... ) - ainda lhe digo que a minha convicção de que, se não houver eleições, haverá um novo governo baseia-se, não em «fontes secretíssimas», mas apenas... na Constituição.
E mesmo à pressa - parece que a ideia de Santana em São Bento incomoda mais algum PSD do que a própria esquerda. E insisto - a esquerda não terá muito a perder com a dupla Santana/Portas no poder.

sábado, 26 de junho de 2004

Não, MacGuffin [act.]

Caro MacGuffin, permita-me um conselho. Leia o que tem escrito, com carácter de angústia e urgência, Pacheco Pereira no seu Abrupto - não faço link, que ele não gosta.
JPP (ainda) não defendeu explicitamente eleições antecipadas - mas temos de levar em conta que ele vai emigrar.

Um link à janela

Este blogue não tem imagens. Mas tem links.

Não, MacGuffin

Não, meu caro MacGuffin, nada disso. O meu amigo leu-me mal. Anexam-se esclarecimentos.
1. Quem é contra a ida de Durão para Bruxelas é o meu amigo. Eu sou a favor. Basta ler o que escrevi ali mais em baixo. Quanto a António Vitorino, não acho que a sua designação para presidente da Comissão Europeia fosse uma «vitória» e um «prestígio» para Portugal - seria, sim, isso tudo, e muito mais, mas para a Europa.
2. Não meu caro, não há qualquer problema em irmos para eleições. Não, o país não precisa, coisa nenhuma, de «estabilidade, contenção e alguma tranquilidade». A Itália teve mais governos no pós-guerra do que nós desde os famosos governos de Dona Maria e a última vez que olhei para a lista dos G7 ainda lá estava. A tal «maturidade» democrática de que fala, aguenta bem uma ida às urnas.
3. Não meu caro, há um grande equívoco da sua parte. Se Durão sair e houver novo governo sem eleições, esse governo não será «um governo de rostos e de muita gente envolvida; um governo que tem um programa e uma estratégia no activo». Pura e simplesmente, haverá um novo governo, com novo programa e novos rostos (e, garanto-lhe, se for Santana Lopes o primeiro-ministro, o programa até pode ser parecido, mas os rostos serão seguramente outros e a acção, essa...)
4. Mas, meu caro MacGuffin, o seu maior equívoco é outro - à esquerda, o que objectivamente mais lhe interessaria seria mesmo um novo governo, de preferência com Santana e Portas à frente. Dispenso-me de lhe explicar porquê... Só que, imagine-se, há gente que gosta de coisas claras, sem jogos por baixo da mesa. Gente estranha, essa!
5. Quanto a essa ideia de que a esquerda está ávida de poder - numa altura em que a direita faz o que faz para a ele se agarrar - é um caso claro de humor falhado. Se era para rir, não percebi...

O valor da política

O Portugal votante -- em particular a base eleitoral do PSD -- prepara-se para ser traído pela segunda vez em dois anos. Primeiro, quiseram Durão à frente de um governo PSD e levaram com Paulo Portas a reboque. Agora, levam com Santana Lopes, cujo projecto tinha sido rejeitado pelo congresso do próprio PSD.

Do nosso homem em Paris (a caminho de...)

Às 18:28, estava Durão Barroso a ser recebido pelo Presidente da República, escreveu JPP: «POBRE PAÍS o nosso».
Às 20:50, já a reunião entre Barroso e Sampaio havia acabado, e JPP ilustra o seu pensamento.

Cinco pontos sobre a situação

1. É claro que, se Durão Barroso tiver o convite e as condições para ser presidente da Comissão Europeia, deve aceitar. Não é razoável exigir de alguém que rejeite uma oportunidade destas. Portugal ganha alguma coisa com isso? Ganhará sempre, nem que seja apenas marginalmente, nem que seja apenas no marketing.
2. Durão tem um problema - romper o contrato que aceitou dos portugueses. Os contratos, como se sabe, podem ser rompidos, desde que se cumpram certas regras, que se expliquem as razões e, sobretudo, que haja boa-fé.
3. É claro que, se Durão Barroso se demitir de primeiro-ministro, o país deve ir para eleições antecipadas. A Constituição permite que isso não aconteça, mas a legitimidade política não se faz apenas da legitimidade que está na lei. Os portugueses votaram nele para primeiro-ministro - as eleições legislativas são altamente personalizadas. A pessoa e o projecto que foram escolhidos foram os de Durão Barroso, não do PSD. Remeto para a questão da boa-fé da alínea anterior.
4. Tendo em conta o trajecto presidencial de Jorge Sampaio, é de esperar que não haja eleições antecipadas. Sampaio fará mal e estará a contribuir decisivamente para a criação de uma situação política com todos os ingredientes para acabar mal, muito mal. Nesse sentido, a convocação de eleições antecipadas seria um acto patriótico (não devemos ter medo das palavras).
5. A oposição, a começar pelo PS, apenas pode exigir e manifestar-se disponível para eleições antecipadas. A oposição tem toda a legitimidade para fazer uma leitura política da situação, nomeadamente à luz do resultado das eleições europeias.
[Gralhas corrigidas.]

Obrigado

A todos os que, em suporte pessoal ou digital, dirigiram palavras simpáticas a TdN pelo primeiro aniversário, um sincero obrigado.
Deixemo-nos de rodeios: soube-me muito bem ouvir e ler palavras tão agradáveis. Ainda por cima, vindas de gente de tão elevada qualidade. Um dia, quando tiver um jornal só meu, há-de lá haver um espaço para cada um de vós. Para todos não, só para aqueles que prometerem continuar nos blogues...
A lista segue, anárquica e quiçá incompleta [mas sempre em actualização..]. Fustigo-me já por esse facto:
Almocreve das Petas, Contra a Corrente, Aviz, Causa Nossa, Barnabé, Bloguitica, Bomba Inteligente, Gloria Fácil, Retorta, Nova Floresta, Sob a estrela do Norte, Viva Espanha, Adufe, Cibertúlia, Blasfémias, Forum Comunitário, Memória Virtual, Fonte das Virtudes, Sol na eira, Foguetobraze, Quase em português, Opiniondesmaker, Avatares de um Desejo, Retórica e Persuasão, 100 nada.
E também obrigado ao Alberto Carvalho, Cecília Costa, Nuno Simas, Desportista Urbano, António Colaço, Queijo Naco, Nuno Guerreiro, Zé Leonel.
E há ainda mais quatro - aqueles que começaram nisto igualmente a 25 de Junho: No arame, Descrédito, A Natureza do Mal e Janela para o Rio. Parabéns a vocês.

sexta-feira, 25 de junho de 2004

Faz hoje um ano

Faz hoje um ano, mais ou menos por esta hora, mais ou menos sob este calor, andava eu às voltas com um template, vamos lá ver se isto funciona, será que isto é assim tão fácil. Umas horas depois, de manhã, como em tantas outras manhãs que se seguiram, o computador tornou-se, mais que uma obsessão, quase uma extensão da minha vida. E o blogue lá foi andando, ao sabor da vida. Uma vida.
[Reparo agora que o país está em festa, que encheram a Avenida da Liberdade. Estou comovido, mas escusavam de se ter incomodado…]

quinta-feira, 24 de junho de 2004

Rust Never Sleeps

Para um amigo tão especial - um verdadeiro Heart of Gold - um obrigado muito especial.

Uh, uh uligã !

E agora... que venham as suecas, carago !!!

Cenas de um país do apartheid

- O senhor aí, sim, o senhor, importa-se de se levantar. Esse lugar é meu.. Tenho passe Classe A.

quarta-feira, 23 de junho de 2004

Contas à Telmo [act.]

Telmo Correia disse, sem se rir, que o PP manteria os mesmos dois deputados mesmo que tivesse concorrido sozinho às eleições europeias.
Comentário apressado: «Pronto, não se fala mais nisso, tu és o Napoleão e a mim podes chamar-me Presidente da Comissão Europeia».
Comentário mais longo: incrível é que alguém consiga levar a coisa a sério. Caso de João Miranda, no Blasfémias, que se enrola em números para demonstrar que o PP vale hoje o que valia nas eleições legislativas de 99. Segundo esta lógica, nem se percebe porque haveremos de realizar eleições periodicamente - fixava-se que os partidos valem o que valiam nas legislativas de 99 e pronto. Era mais barato.
Acontece que há uns grãozinhos na engrenagem - as sondagens. Por exemplo, a do DN/TSF, publicada a duas semanas das eleições, que se revelou muito aproximada da realidade ao atribuir uma diferença de 13 pontos aos dois principais partidos (na realidade, a diferença foi de 11 pontos...). Essa sondagem, como era para europeias, tinha o PSD e o CDS coligados, mas uma outra, para legislativas, realizada no mesmo momento e com o mesmo método, aribuiu ao PP a fantástica percentagem de 1,5.
Vale hoje o PP apenas 1,5 por cento. Talvez não. Mas talvez não valha tanto como em 99...
As sondagens, como se sabe, não são instrumentos perfeitos para medir os fenómenos políticos. Mas são o que temos. Bom, as sondagens e os palpites de João Miranda, esses sim, bem mais certeiros.
Comentário curto outra vez: curioso, muito curioso, é o silêncio do PSD sobre este assunto.
[Actualização: afinal... o PSD existe.]

Que injustiça...

NMP, do Mar Salgado, tem toda a razão - as bárbaras execuções de estrangeiros no Iraque estão a ser vistas com carácter muito dúplice no Ocidente.
Por exemplo, nenhum dos media on-line americanos que, na sexta-feira, faziam manchete com a execução de um americano deram, ontem, o mesmo destaque à execução de um sul-coreano. Sinceramente...

terça-feira, 22 de junho de 2004

A arte da guerra, doutrina Bush

Parágrafo 24.04.74.º
Inventa os teus próprios inimigos. Se nada tens a dizer sobre a bandeira, por falta de imaginação, conhecimentos ou simplesmente patriotismo, começa a gritar que lhe querem deitar fogo. Se o fizeres com muita foooorça, algumas pessoas vão acreditar, durante algum tempo. O tempo necessário para que corrijas as tuas próprias lacunas.

Enchamos, então, o depósito

Rendo-me. O João Miranda tinha razão - a liberalização do preço dos combustíveis só tem trazido vantagens. Quando o petróleo sobe, sobem todas juntas. Quando o petróleo baixa, baixam todas juntas (só que, como dizia o outro, baixam baixinho...). Além disso, tem sido uma maravilha - tentando aproveitar os benefícios da liberalização, há empresas a oferecer serviços novos, gasolina às cores e até com sabores, leve um pague dois, perdão, leve dois pague três, e por aí fora... Nunca imaginei tanta felicidade numa estação de serviço!

Parabéns, ora essa

Entretido que andei com a bola (!!?), nem reparei no aniversário de um dos meus blogues de eleição. Com um pedido de desculpa pelo atraso... Parabéns Bruno.
E, por falar em aniversários, já espreitaram A Forma do Jazz?
[Act: Quanto ao António, passou o dia de aniversário às voltas com os espanhóis...]
[Act 2: Começo a descobrir que isto dos blogues é como na vida real - só não me esqueço do meu próprio aniversário porque há sempre alguém que o lembra.]

segunda-feira, 21 de junho de 2004

Lembras-te?

- Oh Jotinha... Pra quem não vai à bola, não estás a ficar um bocadinho uligã?
- Olha, olha... Seja bem aparecida...
- Bem aparecida, eu? Esqueceste-te de mim, aqui num canto, há um tempo do caraças... Olha lá, quem é que ligou a xófaje?

Uh, uh ! Uh, uh

Agora, sairam-nos na rifa os ingleses. Let's fuck'em.

Emoções da bola (III)

E agora, digam lá se os deuses (escolha você mesmo, de acordo com as suas inclinações...) não foram generosos?
Os portugueses têm, nada mais nada menos, que o maior dia do ano para comemorar. Aproveitem bem, olhem que pode não haver outra oportunidade tão cedo...

Emoções da bola (II)

Gostava que a festa tivesse sido outra. Que Lisboa tivesse sido inundada de bandeiras verde-rubro e amarelo-vermelho. Não faço a mínima ideia se a bola e a matemática tal permitiriam, mas uma festa ibérica teria sido de arromba.

domingo, 20 de junho de 2004

As bandeiras

Agora, compras outra bandeira e pões na outra janela!

A bandeira

E logo, que farás tu com essa bandeira!?

sábado, 19 de junho de 2004

Sei que estás em festa, pá !

O Chico Buarque faz hoje 60 anos.
[Ainda dizem que não coincidências - há uma semana, peguei numa colectânea de quatro discos do Chico e levei para o carro. Apetecia-me reouvir Chico... longe de saber que havia razões para comemorar...]
A canção de que mais gosto do Chico são todas. Mas gosto especialmente da primeira versão de «Tanto Mar», a tal que foi censurada e que saiu em Portugal num LP que ali tenho.
Gosto de «Tanto Mar» por todas as razões, mesmo, e talvez principalmente, pelas razões erradas.

Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim

Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor do teu jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar

Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim.

sexta-feira, 18 de junho de 2004

Alegria de cigarra

Desmedida, esta alegria do futebol. Uma nação que se transfigura perante uma vitória ténue, e que será duramente posta à prova daqui a pouco.
É destas alegrias que mais gostamos. Alegrias pouco consistentes, no limbo, a pedirem um esforço desgarrado para se sustentarem. Uma alegria de cigarra.

quinta-feira, 17 de junho de 2004

As coisas em seu sítio

Numa entrevista à Veja desta semana, Kofi Annan, o secretário-geral da ONU, questionado acerca da forma como hierarquiza os principais problemas do mundo, responde:
1.º pobreza e desigualdade
2.º degradação do meio ambiente e exploração não sustentada dos recursos naturais
3.º conflitos e guerras civis
4.º terrorismo e proliferação de armas de destruição maciça
5.º desconfiança entre pessoas de diferentes religiões.
Tanto bom senso até chateia. Com tanto bom senso, como poderia George W. Bush querer colaborar com a ONU?

A tentação totalitária

Mas por que carga de água é que um voto sobre Ronald Reagan haveria de ser unânime?

(pequena) Provocação (III)

Longe de mim associar a debandada da tal direita inteligente a:
a) a «banhada» nas europeias;
b) a cada vez mais evidente «banhada» do Iraque.
Enfim, pensando melhor... nã... é melhor não.

(pequena) Provocação (II)

Caro McGuffin, por amor de Deus não encerre o blogue...
Estava só a meter-me consigo a propósito da debandada dos seus amigos. Já viu? Agora, para os ler, vai ter de comprar o Independente (ainda vá lá...), o DN (!), o Expresso (!!) e até o Correio da Manhã (!!!). Se isto continua assim, ainda temos um blogueiro de direita a fechar o blogue e a mudar-se para o 24 Horas. Só espero que não seja o MacGuffin...

JPP - exemplo prático

É por isto que Pacheco Pereira vai fazer falta ao comentário político em Portugal.
Quando umas almas penadas da direita exultam com a ideia de que Ferro Rodrigues é o seguro de vida de Durão Barroso, e quando alguns socialistas assinam por baixo, JPP escreve isto:
«Nestas eleições, Ferro mostrou uma contenção meritória em dois aspectos onde tudo e todos o empurravam para a radicalização: fez a distinção necessária entre europeias e legislativas e não andou a pedir a queda do Governo, e, na prática, ajudou a que a campanha eleitoral em Portugal não se centrasse numa exploração demagógica sobre o Iraque.»
Sobre a coligação PSD/PP recorda aquilo que os lambe-botas de Durão e Portas teimam em esquecer:
«É uma aliança que tem razões puramente tácticas e que se centra em criar condições instrumentais para o exercício do poder.»
Nada disto me parece extraordinário. Extraordinário é que tão pouca gente o queira reconhecer.

quarta-feira, 16 de junho de 2004

O Aviz

Acho que foi quando o Francisco criou o Aviz que tomei a decisão de também fazer um blogue. O Aviz faz hoje um ano, o que quer dizer que o TdN fará um ano daqui a mais ou menos uma semana.
Fiz vários pingue-pongues com o Aviz. Até a Joni Mitchell nós discutimos... Na maior parte dos casos, a afectividade falou mais alto. A conversa azedava quando se falava de Médio Oriente. Acho que é assunto sobre o qual nunca nos entenderemos - há sempre qualquer coisa que se sobrepõe à racionalidade. Eu acho que o defeito é dele, ele acha de certeza que é meu.
Escrevo no passado porque há muito que não nos vemos por aqui. Apesar de uma parte razoável dos leitores que chegam a TdN virem do Aviz - talvez ele não saiba, mas muita gente usa o Aviz como porta de entrada para os blogues e depois clica nos links que ele pacientemente coleccionou.
De todos os blogues que nos últimos tempos encerraram, do que tenho mais saudades é do Aviz, que nem sequer encerrou. Porque o Francisco é das vozes mais serenas destas bandas - uma voz que faz falta neste ambiente um pouco neurótico que é o dos blogues. E ele faz falta porque, por razões que só a ele dizem respeito, está a escrever muito menos. É só disso que tenho pena.

O filho de Beleza

A informação é hoje também um mercado. E, claro, se o filho de um político é apanhado numa rede de droga isso é notícia. Mesmo que o filho seja maior e responsável pelos seus actos. Mesmo que aquilo que verdadeiramente conta é que uma rede de tráfico, envolvendo mais de três dezenas de pessoas, tenha sido desmantelada.
Eu preferiria que as notícias fossem hierarquizada - que a rede surgisse à cabeça e que o filho de Leonor Beleza aparecesse com menor destaque.
Mas a informação é um mercado.
E, politicamente, sou sensível ao argumento da transparência exposto por João Miranda no Blasfémias.
Às vezes, tenho estas ingenuidades. Gostava que as notícias fossem mais sérias. Mas isso também implicava que fôssemos todos mais sérios. Por exemplo, os políticos que têm filhos apanhados em redes de droga. E hoje não se pode pôr as mãos no lume por ninguém.

E o que tens tu contra o body milk?

Se há blogue que se parece com um livro (mesmo para ler só com uma mão...) esse blogue chama-se Opiniondesmaker.
[É claro que este post é motivado por um umbiguismo assim a modos que transferido. Ou, se preferirem, é coisa de musa babada...]

(pequena) Provocação

Será que o Contra-a-Corrente ainda não percebeu que o que está a dar, entre a malta da direita inteligente, é fechar o blogue?

O filho de

Há várias horas que, de meia em meia hora, a SIC está a dizer que «o filho de Leonor Beleza» foi detido por um crime qualquer. Isto não faz sentido.

Um lamento sincero

FNV abandona o Mar Salgado. E agora, quem vai estar vigilante aos desmandos esquedalhos dos jornalistas? Com quem me vou meter quando me apetecer uma polémica cortante mas civilizada? Quem me vai linkar, sem linkar, na coluna ao lado?

Blogue José Sócrates

Devido ao sorriso amarelo (alaranjado, vá lá...) com que n'O Acidental se festeja a vitória de Ferro Rodrigues nas europeias, decidi passar a tratar o dito sítio como Blogue José Sócrates.

terça-feira, 15 de junho de 2004

O refém Pedroso

No Bloguitica, defende-se que Paulo Pedroso «deveria esperar que se esgotassem todos os mecanismos de recurso» antes de regressar ao Parlamento.
Se Leonor Beleza tivesse esperado que «se esgotassem todos os mecanismos de recurso» antes de regressar à vida política teria morrido politicamente.
E pergunto? Alguém (ou alguma instituição) tem o direito de fazer outro seu refém político ou cívico?

JPP

José Pacheco Pereira vai ser embaixador de Portugal na UNESCO.
Se quisesse comentar o facto do ponto de vista, pequenino, do comentarismo lusitano, diria que Durão Barroso encontrou uma maneira fácil de o calar. Da mesma forma que quer afastar António Vitorino de Portugal...
Comentando mais a sério - nunca consigo imaginar JPP em cargos desta natureza. Oficial, oficiosa, oficialona. E, pior, sujeito a estritas regras de hierarquia e conduta. Imagino-o sempre como um espírito livre. Embora saiba que, nos momentos certos, se cala ou, embora sempre de uma forma inteligentíssima e aparentemente distanciada, acabe mesmo por defender o essencial - ou seja, o partido.
Com a ida de JPP para Paris perdemos, além do mais, uma das vozes mais interessantes na análise na política portuguesa. Concorde-se, ou não, com o que escreve.
JPP promete agora que vai continuar a escrever, mas não sobre política. O desafio parece-me interessante, mas impossível de concretizar. Na visão que JPP tem das coisas, da vida, tudo é política. E isto nem sequer é uma crítica, mas sim um elogio.
Termos um JPP a escrever nos jornais, ou a comentar aqui e ali, limitado ao não-político é coisa que, muito sinceramente, não consigo imaginar. Mas vou acompanhar, atentamente, esse desafio.

Eleições - a coligação

O resultado das europeias em Portugal vem deixar a nu o que se previa - o mal-estar que acompanha a coligação desde a nascença.
Ninguém poderá, com rigor, dizer que a derrota se deve a um ou outro factor. A um ou outro partido. Provavelmente, deve-se a uma constelação de razões. As sondagens já apontavam para uma razoável erosão do PP, deixando entender que o partido de Portas é hoje uma menos-valia na coligação.
Contas à parte, a verdade é que um certo PSD (uns certos PSD...), mais tradicional, mais ligado à história do partido, nunca viu com bons olhos uma coligação que, pressentia, acabaria por afectar ideologicamente o partido.
O PSD deu-se sempre mal com as ideologias. É um partido central, sem ideologia, mas que no seu interior cobre o espectro de direita, até onde é razovável falar de centro-direita. Nessa leitura, o PP será sempre um exagero, ao acentuar o pendor de direita radical, de que o PSD não necessita.
Acresce que este PP tem pouco para oferecer - é, ao contrário do que parece, pouco reformista. Está mais interessado em alimentar passadismos, em recuperar um certo conceito de portugalidade, em brincar às ideologias. Mais pragmático, mais reformista, o PSD vê-se, assim, arrastado para batalhas ideológicas que incomodam vastos e influentes sectores do partido. A energia que, inquestionavelmente, o PP gera não é aquela que interessa ao PSD.
O que vai fazer o PSD com este resultado é uma incógnita. O governo talvez vá ser remodelado, mas isso não resolverá o mal-estar.

Eleições - a Europa

Daqui a dois dias, em Bruxelas, reune-se uma decisiva cimeira europeia. Será a cimeira dos derrotados. A maioria dos chefes de governo da Europa perderam as eleições ou sofreram valentes sustos.
As eleições de domingo não eram legislativas nacionais, das quais emana a legitimidade dos governos europeus. Eram eleições europeias - tratavam, em princípio, dos temas que juntam esta semana os líderes da Europa.
Por isso, a cimeira será especialmente incómoda - os líderes ali reunidos têm, de alguma forma, a legitimidade ferida.
São esses líderes que vão discutir a Constituição europeia, os comissários, a redistribuição da riqueza e do poder na Europa. Eles, os derrotados.
Dir-se-á - mas, nesses países, as oposições vitoriosas têm, na maioria dos casos, políticas europeias idênticas às dos governos. Pois, mas, cada vez mais, a política faz-se pelas pequenas diferenças, pelas nuances... já lá vai o tempo dos grandes eixos de ruptura.
Com os dossiers que estão em cima da mesa a serem tratados por líderes enfraquecidos eleitoralmente, a Europa só pode avançar na trapalhada. O sinal que vai sair de Bruxelas nos próximos dias só dará razão aos cépticos. A Europa das grandes visões está adiada.

Eleições - a abstenção

A democracia faz-se com quem está. Isto é, com quem vota.
Estou um pouco farto de discursos preocupados acerca da abstenção. Não vota quem não quer - a democracia, está provado há décadas, sobrevive a isso.
O discurso político sobre a abstenção enoja-me. Oscila entre o piedoso (ai a democracia...) e o demagógico (perdemos... foi a abstenção).
Interessa-me o discurso sociológico sobre a abstenção - tentar saber as razões, tentar saber quem ganha e perde com ela. Isso é uma coisa.
Outra, bem diferente, é o discurso-aproveitamento político da abstenção.
Que os dois discursos se confundam não me espanta - num país em que os políticos fazem análise na televisão e nos jornais e em que os comentadores dos jornais e das televisões fazem política.
[É claro, isto para não falar desse interessantíssimo fenómeno que são os blogues como laboratórios partidários...]
Eu fui votar. E fico zangado quando comparam o meu voto com a decisão daqueles que não votam. E que, na enorme maioria dos casos, são movidos pelo comodismo, pela preguiça de fazerem escolhas.
Dizem-me que estão fartos da política. Que a política perdeu qualidade. Eu também acho que muitas das profissões/actividades desses abstencionistas não valem um caracol. Não interessam à sociedade. Mas gramo-os. Em doses que tolero - faço opções. E pergunto - o que faz esse rebanho de abstencionistas para mudar a política?

quarta-feira, 9 de junho de 2004

Ainda Sousa Franco

Hoje era o dia em que, inevitavelmente, haveria de arranjar uma piadola qualquer, que meteria obrigatoriamente futebol e política, para justificar a ausência dos próximos dias.
Acabou por ser o dia em que não me apeteceu escrever nada.
A morte convida-nos sempre ao silêncio.
As circunstâncias da morte de Sousa Franco - e mesmo a sua personalidade ímpar - exigem, porém, profunda reflexão pública. Não será este o momento, nem será certamente este o local. Mesmo assim, aí ficam dois apontamentos.
Desde logo, acerca da forma como estamos a fazer política (escrevo na primeira pessoa do plural, porque a política é uma actividade à qual não se pode fugir - a abstenção, em sentido lato, é uma forma de fazer política). A peixeirada na lota de Matosinhos talvez não tenha contribuído para a morte de Sousa Franco (quem o pode garantir?), mas foi mais um episódio de uma triste campanha, a vários títulos exemplar. E o pior é que, no retrato, poucos ficámos bem.
Depois, quanto ao exercício concreto da política. Nem todos os políticos são iguais, ao contrário do que alguns discursos (mesmo de certos políticos...) querem fazer crer. Sousa Franco mostrou nesta campanha que é possível lutar por causas, serena mas empenhadamente, com discurso vivo, mas sem resvalar para a ordinarice. O entusiasmo que patenteou levou mesmo algumas almas a vê-lo em papéis que não estavam em jogo. Mas o regresso de Sousa Franco à política mostrou também uma disponibilidade desinteressada, alheia a jogadas de bastidores, que foi, também ela, exemplar.

Sousa Franco

As palavras atropelam-se.
Sousa Franco era uma personalidade singular.

terça-feira, 8 de junho de 2004

Ena pá...

E por falar em défice...
E por falar em Reagan...
Mr Reagan's eight years in office spanned triumphs and disasters. He left office with a budget deficit larger than the combined total of all of his 39 predecessors.
É OBRA !!!

Sua gorda...

Não resisto a citar o El País:
«En hora y media, Britney Spears tuvo tiempo para mostrar que últimamente no hace tanta gimnasia y que la diferencia entre un pase de lencería y uno de sus conciertos es cuestión de detalle. Se cambió unas cinco veces de vestuario y en todos los casos mostró tantos centímetros de piel como pudo. Sin la clase y personalidad de Madonna, Britney Spears sí pasa por encima a Christina Aguilera, pero sigue de lejos a la maestra indiscutible, una Madonna que baila mejor, canta mejor y que sería icono aun pesando 20 kilos más.»

O enterro da Guerra Fria

Eu pensava que o comunismo tinha nascido derrotado. Um sistema tão mau só poderia estar condenado ao fracasso.
E pensava que, tendo ele nascido derrotado, a derrota tinha crescido com a idade. A lei da vida.
Tinha ficado mais derrotado quando foi obrigado a construir um muro para se defender. Mais derrotado quando foi obrigado a retirar os mísseis de Cuba. Mais derrotado quando viu que na Pensínsula Ibérica não poderia semear descendência. Mais derrotado, enfim, quando o que tinha para a troca era um Terceiro Mundo paupérrimo e um bocado da Europa a caminho do Terceiro Mundo.
Pensava eu, também, que a Guerra Fria estava, assim, mais que ganha. Todos, a começar por eles, sabiam que o desequilíbrio de desenvolvimento, económico e militar, era flagrante. Pensava, pois, que a Guerra Fria já era, há umas décadas, um mero jogo que interessava às duas partes como mera operação de propaganda. Um quase entediante jogo de estratégia, uma burocracia para manter a malta ocupada.
Estava enganado. A Guerra Fria, afinal, estava bem vivinha da costa. E quem a matou, de morte súbita, foi um tal de Ronaldo Reagan mais um Papa Karol.
É o que esta vida tem de bom - estamos sempre a aprender.

segunda-feira, 7 de junho de 2004

Resposta ao Bloguitica

A «notícia» sobre Ferro a lançar Franco para Belém parece-me, de facto, dissonante em relação a TODAS as notícias sobre o mesmo evento. Dessa forma, por enquanto, parece-me uma bocadito «falsa»... Se puserem um microfone à frente de Ferro, já não garanto nada...
Já mais curiosa é a outra notícia sobre a hipótese Constâncio. Nunca poderá ser considerada falsa... porque, como o autor escreve, trata-se de um mero cenário de «alguns» dirigentes do PS. Pelo que se conhece da relação de Constâncio com o partido, dá para imaginar os calafrios que tal cenário deve estar a criar em... digamos... 99 por cento dos nomes de primeira linha do PS.

Para o Sudão, já!

Na sua perpétua peregrinação planetária em busca de causas que entalem os dos costume, FNV (do Mar Salgado), descobriu agora o Sudão. Antes que gaste mais latim, dou-lhe já duas sugestões.
a) que todas as culpas do que se passa no país sejam de imediato atribuídas à esquerda em geral e à Europa em particular (deixando, é claro, um cantinho muito especial para os media que, como de costume, se esqueceram do Sudão...)
b) que FNV desenvolva já uma vasta campanha na nossa pequenita blogosfera de apoio a uma vasta intervenção americana (como se compreende, os israelitas estão muito ocupados...). Aquele povo está mesmo a pedir para ser libertado.

Ferro seja Franco

O Bloguitica todos os dias nos recorda que detesta Ferro Rodrigues (e Durão Barroso e Paulo Portas, mas isso não vem ao caso...), mas às vezes exagera nos argumentos a que recorre. Por exemplo, pelas notícias que vi, Ferro Rodrigues parece ser o único dirigente do PS (desculpe-se o exagero...) que não se pronunciou sobre a ideia de candidatar Sousa Franco a Belém. Mas nem por isso se livra... se não defendeu a ideia, poderia ter defendido.

domingo, 6 de junho de 2004

As coisas como elas foram

Os Estados Unidos ganharam a Guerra Fria.
O mundo deve esse passo histórico a Mikhail Gorbachov.

Males que vêm por bem

A morte de Ronald Reagan levou O Acidental a vestir-se de luto. Negras letras sobre fundo negro. Não se consegue ler nada. Há males que vêm por bem.

Picar o ponto - Reagan e o Dia D

A estas horas, já deve haver por aí meia dúzia de blogues onde se excomunga para todo o sempre quem não tecer duas ou três lôas a Reagan e outras tantas ao Dia D. Ou seja, a quem não picar o ponto. Esse patrulhamento tornou-se, de resto, uma das actividades favoritas da nossa pequena blogosfera - registar, invectivar, censurar quem regista ou não regista, critica ou não critica, aplaude ou não aplaude, certos e determinados eventos com que se tece a actualidade. Confesso que é uma das coisas - picar o ponto - para a qual já não tenho paciência.
Reagan e o Dia D são excelentes exemplos. Haverá algo de novo a dizer sobre os dois temas?
Assinalar este tipo de efemérides/eventos tornou-se uma forma delimitar águas, mas igualmente de as turvar.
O Dia D, por exemplo, é uma daquelas datas acerca das quais não consigo imaginar um discurso negativo. Tudo ali parece convergir naquilo a que poderíamos chamar de sentido acertado da História, mesmo que não concordemos com algumas das coisas que vieram a seguir. É por isso que prefiro encarar essa data como algo de singular e abstrair-me de mais considerações. Até porque me parecem claramente abusivas as leituras que ligam o Dia D à História recente. Nada é assim tão simples...
Com Reagan, a mesma coisa. O homem deu cabo da Guerra Fria, mas não era isso que se esperava de um presidente dos EUA, os mesmos EUA que co-criaram a Guerra Fria?

sábado, 5 de junho de 2004

Pouca Europa, muita Europa

Sobre a questão dos insultos na campanha eleitoral e da cobertura jornalística dos assuntos europeus, JPP tem toda a razão.

Um túnel longe de mais

Vital Moreira incomoda-se com o anúncio do túnel para o Tejo. Pecadilho regionalista...
A coisa não merece, porém, tanto incómodo. Note-se apenas em dois pormenores:
a) a manchete de jornal (DE) surgiu umas meras 48 horas após uma reunião do chamado núcleo duro do Governo destinada a estudar medidas para o relançamento da imagem do dito;
b) a manchete surge a menos de duas semanas de umas eleições relativamente às quais todas as sondagens dão estrondosas quebras para os partidos da coligação na zona da Grande Lisboa.
Compreende-se, assim, que o Governo tenha optado pelo túnel do Tejo e não, por exemplo, por um qualquer teleférico entre Coimbra e a Figueira, ou mesmo uma ponte aérea entre Bragança e Viseu. Note-se que se trata de duas propostas cuja seriedade e viabilidade são mais ou menos equivalentes às do referido túnel.

sexta-feira, 4 de junho de 2004

Uma análise fraquita

... ou as piruetas lógicas que se fazem para adaptar a realidade (o fracasso do processo Casa Pia) aos nossos desejos (inconfessáveis, pois claro).

Alegria

O Cibertúlia faz hoje um ano. É uma terra de alegria.

Vá lá, parem lá com isso...

Ainda não estava completamente refeito daquela coisa da Força Aérea ter dois F-16 à espera do OVNI, quando o governo anunciou que ia fazer um túnel para o Metro sob o rio Tejo.
Assim, não há produtividade que aguente. Estou aqui a agarrar a barriga com ambas as mãos para não me desmanchar a rir, como é que querem que faça um caracol?

Carlyle

Estava a ler isto [Toda a verdade sobre a Carlyle!] e desatei a rir. Por causa disto [Governo abre negociação da Galp aos parceiros da Carlyle]. Por um daqueles acasos, a seguir fui ler isto [Há muito tempo que não me ria tanto].
É claro que tudo isto é humor involuntário. Tão involuntário, que nem eles sabem do que riem. Deve ser nervoso miudinho. Ou talvez riam apenas deles próprios.

quinta-feira, 3 de junho de 2004

Cuidado, não pisem o OVNI

O acontecimento do dia (ia a escrever «do ano», mas ao ritmo a que as coisas andam «do dia» parece-me mais adequado...) é, sem dúvida, o OVNI (porquê no singular, senhor jornalistas?) que nos visitou pela calada da noite.
Quiçá atraído pelas vibrações dos três minutos de silêncio do Rock in Rio, quiçá à procura de um homem de «óculos esquisitos» que escapou do planeta Déficitus vai para uns anos, quiçá na expectativa de uma borla para os jogos do Euro. Faço notar, porém, que o objecto surgiu escassas horas após o núcleo duro do Governo se ter reunido em busca de um novo ânimo para a Pátria.
De todo o vasto e intrigante noticiário publicado sobre o objecto, destaco, porém, uma notícia do Correio do Manhã: Força Aérea tem dois F-16 preparados. Fico mais descansado, lamentando apenas que a encomenda de submarinos ainda não tenha sido entregue.
Fontes bem informadas garantem-me, entretanto, que devido à tipologia de acontecimentos registados no nosso país nas últimas semanas, a Walt Disney decidiu reformular os seus pacotes de férias para a Eurodisney - a partir de agora, serão duas noites em Paris e uma em Lisboa.

Turismo? Política?

O Sindicato Nacional dos Trabalhadores das Telecomunicações e Audiovisual vai realizar uma viagem a Cuba.
Eis o preâmbulo do programa:
«De facto, só viajando a Cuba é possível conhecer toda a beleza ali reinante, desfrutar das águas maravilhosas do Mar Caribe, conhecer belezas turísticas e históricas impares, sentir o calor humano e a fraternidade contagiante daquele povo e conhecer um pouco do enorme conjunto de transformações sociais realizadas pela Revolução Cubana, não obstante o bloqueio económico imposto pelos EUA à cerca de 45 anos.»
As condições são vantajosas... e, depois, o que é que custa fazer de conta que as duas últimas frases não estão lá?
[O «à cerca» está no original - o que seria dos nossos sindicatos sem um errozito de português?]

Jornais, jornalistas

«O jornalismo é a arte superior de se morrer todos os dias».

Chegam cartas

Recebi, finalmente, a carta do governo sobre o euro.
É uma de fundo vermelho, com um gajo de barba aparada a rir-se pra mim, e a frase «Força Portugal» ao lado?
Só não percebo porque é que a carta termina com a frase «Vote. Dê Força a Portugal». Mas é preciso votar? Não basta ver os jogos na televisão?

quarta-feira, 2 de junho de 2004

Justiça?

Quando rebentou o processo Casa Pia, logo nos informaram que estavam a ser esvaziadas prisões para acolher mais arguidos. E depois explicaram-nos que o assunto iria até às últimas consequências. Depois que foram tiradas certidões do primeiro processo e que havia já uma mão-cheia de processos conexos. E depois que a lista de notáveis era interminável. E depois que novas detenções estavam iminentes.
Quanto estourou o Apito Dourado, tiveram o cuidado de informar que aquilo era a ponta do icebergue. Que o que aí vinha é que era a sério. E alguns nomes até chegaram aos jornais.
Na Casa Pia, a rede de pedofilia resume-se a menos de uma dezena de arguidos.
No Apito Dourado, basta ler os jornais de quarta-feira para perceber que o processo morreu.
Eis a justiça.
E, perante esta justiça, apetece-me até esboçar solidariedade com os poucos arguidos sobre os quais tenho presunção de culpabilidade. Afinal de contas, porquê eles e não quaisquer outros? Por uma questão de lotaria?

Alô, comandante !

Istambul, 02 Jun (Lusa) - A Associação Mundial de Jornais exortou hoje o presidente cubano, Fidel Castro, a libertar os 32 jornalistas cubanos presos e a pôr fim às perseguições a jornalistas independentes em Cuba, anunciou a associação num comunicado.
[Dedicado ao FNV, do Mar Salgado, via Lusa].

Money makes the world... (2)

E se, afinal, não for bem assim? Então, talvez seja assim. Tenebroso.

Esquisito

O cabeça de lista do PS nas europeias acusou Paulo Portas de ter levado o PP para a extrema-direita.
Só não percebo porque é que Pacheco Pereira usa agora aqueles «óculos esquisitos».

Money makes the world...

A Carlyle, afinal, ficou de fora da privatização da Galp.
Agora, lá teremos de arranjar maneira de compensar o camarada Carlucci, que é tão, mas tãããão, nosso amigo.

terça-feira, 1 de junho de 2004

Giroflé-giroflá...

Eu, que nada percebo de leis, fico sempre espantado quando alguém escreve - acreditando no que escreve - que, no sistema altamente político-mediatizado em que vivemos, existem pessoas ou entidades unica e exclusivamente interessadas na obtenção da verdade, pessoas e entidades que não fazem parte do jogo, que não se movem por interesses, próprios ou alheios.
Uma coisa será o que está nas leis, nos acórdãos, nos textos sempre pios. Outra, meus caros, é a prática.
E só me pergunto: mas esta gente viverá no Jardim da Celeste?

Correios e cervejas

O Cibertúlia já tem duas cartas do ministro Arnaut. Boa, boa - já pode apresentar duas queixas, ao abrigo do Dec-Lei (favor colocar o n.º) que proíbe a distribuição nas caixas de correio de publicidade não endereçada.
Quanto à cerveja, durante o euro só às escondidas. Não vá o dr. Louçã perceber...

Fábula imoral

À porta do TIC, os jornalistas ouviam advogados. Por exemplo, o que representa os miúdos, a Casa Pia ou o Estado (não sei - mas esta confusão deliberada é um dos cernes deste caso e um dia ainda haverá de ser deslindada).
Perguntam os jornalistas se vai recorrer dos não pronunciamentos.
Responde o advogado que sim, de dois.
Dizem os jornalistas que, mas então, não foram três os não pronunciamentos.
Responde o advogado que o tal do arqueólogo subaquático é irrelevante para este caso. E depois desata em considerações sobre Paulo Pedroso.
Moral da história: de facto, uns são mais iguais que outros.
Segunda moral da história: alguém andou à cata de famosos.
Rectificação da segunda moral da história: alguém andou à cata de uns famosos muito específicos.
Resumo imoral desta história: a justiça não é cega.

Fora de jogo

Andam por aí umas respostas a uma carta do ministro Arnaut. Não recebi nenhuma carta do ministro Arnaut. Como é que ele sabe que eu não vou à bola... com ele?

(Des)norteados

O Blasfémias engoliu o Liberdade de Expressão. A mania das fusões... Felizmente, neste caso, a fusão não visava a redução dos recursos humanos, como todas as outras. Digamos que a liberalismo personalista (será que isto existe?) cedeu ao colectivismo liberal (e isto?). Para já, como também acontece na sociedade de consumo a sério, quem fica a perder são os consumidores - perdemos uma das vozes mais interessantes da blogosfera.
Ainda a Norte, anunciam-se outras más notícias. O Mar Salgado prepara-se para encerrar portas, ou melhor, zarpar. Sim, como será possível continuar a comentar a actualidade evitando assuntos que envolvam «estratégias informativas manipulatórias e intoxicantes»?